segunda-feira, 7 de julho de 2008

A Maior

Vai começar mais um processo eleitoral. Eleições meu caro leitor! Em menos de vinte e quatro horas começa a campanha para prefeito e para vereadores em todo o país e a partir daí, ficamos proibidos de falar em política, pois tudo pode ter conotação eleitoreira.
Prepare-se para aquelas frases de efeito “a maior eleição da historia deste município!”. Claro que é a maior. A não ser que tenhamos uma grande catástrofe ou uma guerra (duvido muito), o atual pleito sempre será maior. A população cresce e cresce o número de eleitores. Isso todos nós sabemos. Mas frases de impacto ajudam a vender jornais.
Eclipse político
Mas o eleitor e os nossos candidatos mais uma vez devem estar preparados para o eclipse político que a mídia televisiva nos impõe. Fazer campanha eleitoral nas cidades metropolitanas exige um esforço sobre-humano. Explico: você vai chegar em casa e vai assistir na tevê ou ouvir pelo rádio a propaganda eleitoral de Porto Alegre. Nem um segundo sequer é destinado aos candidatos de Viamão, Alvorada, Gravataí ou Cachoeirinha, só pra citar o Vale do Gravataí.
De lavada
E dá-lhe Maria Rouca do Rosário, Manuela Cacareco, Filhinha do Papai Genro, Inox Lorenzetti, Porto Alegre é demais Fogaça e por aí vai. Depois fica fácil o discurso “meu amigo, agora conto com tua ajuda” daqui a dois anos quando essa gente desembarca em Viamão atrás do teu voto pra “construir nossa candidatura” aos cargos de deputado estadual e federal. E os políticos daqui? Pé no barro, meu amigo! É muita covardia!
Ao trabalho
Como viamonista me sinto na obrigação de desejar a todos os candidatos sucesso nesta campanha que se inicia. Independente de quem seja escolhido nas urnas, saibam que é preciso muita coragem para colocar seu nome a disposição de uma agremiação política. Neste período que convivo com algumas personalidades políticas, neste contato mais direto, independente das suas realizações, aprendi a respeitar o ser humano que está ali fazendo da política seu ideal. Mãos à obra pessoal.
Presídios
O Hélio Ortiz levantou com muita propriedade em sua coluna o tema (recorrente) dos presídios em nosso estado. Nós dois temos o mesmo entendimento a respeito do assunto. Do limão, uma limonada. Lembram que ano passado nossas autoridades fincaram pé e rejeitaram um presídio em nosso território? Pois agora o Helio nos coloca a triste estatística que dez por cento da população carcerária no Presídio Central (que vai ser demolido) é composta por viamonenses. Não seria lógico que estes apenados estivessem cumprindo pena em Viamão? Não seria coerente que a nossa sociedade, doente, lambesse as próprias feridas?
Negociar
Na verdade quem é punida é a família do infrator, que cumpre pena junto com ele. Aí se a sociedade não cura a família, não dá condições de estruturação e resgata-a desta condição marginal, quem assume este papel é o patrão do crime, que dá suporte financeiro e perpetua esta condição criminosa no íntimo familiar. Negociar um presídio para nossa cidade deveria prever contrapartidas que assegurassem ao egresso do sistema prisional e à sua família condições de sair deste pesadelo. Ta aí o Pronasci que busca resgatar nossa juventude do contato com este mundo violento. Negociemos, pois, outras alternativas e não deixemos passar este cavalo encilhado novamente.
Coluna publicada em 05 de julho de 2008.

Cultura Viamonense

Logo nos primeiros dias de 2005, fomos convidados (eu, o Lilja e o Daniel Hilário, todos na Revista Viamão) para participar de uma reunião dos segmentos artísticos e culturais do município, quando o recém empossado secretário de cultura, Hélio Ortiz, iria apresentar suas estratégias e projetos para a área. O Hélio assumia a Cultura com boas recomendações e o clima da reunião era bem otimista. O pessoal do teatro estava animado, quem estava envolvido com o esporte amador, também. Os artistas plásticos e, quem lida com as letras, mais ainda! No cenário musical nem se fala. Enfim, todos transpiravam no calor do “agora vai!”. Só que no meio da reunião eu fiz a pergunta que veio como um balde de água fria: o que a Cultura tem pra colocar isso em prática? E o Hélio respondeu seco:
- Nada!
- Um carro?
- Não.
- Um caminhão?
- Podemos arrumar...
- Recursos financeiros?
- Temos que correr atrás...
Aquilo desmoronou qualquer esperança da turma. Lembro disso porque quem, depois, pôde acompanhar o trabalho do Ortiz nos três anos seguintes como secretário viu que muito foi feito. A conclusão do Centro Municipal de Cultura já foi uma grande realização. Tenho minhas resistências quanto à localização, mas, que diabos, pelo menos está funcionando.
Departamento
Esta semana me confidenciaram que existe a possibilidade de nossa Cultura dar um passo atrás e voltar a funcionar como um departamento da Secretaria de Educação. E até justificaram que a irmã rica da administração municipal tem mais condições de tocar alguns projetos culturais. O próprio segmento do Turismo não está na pasta da Cultura (quem responde pelo Turismo é a Secretaria de Desenvolvimento), tornando esta pasta muito frágil. Não se surpreendam então se isso vier a acontecer.
Fundações
Eu particularmente também não concordo com uma secretaria de cultura, nos moldes atuais. Sou a favor da criação de uma fundação cultural para cuidar destes assuntos e explico. Hoje fica muito difícil desenvolver projetos culturais sem o apoio da iniciativa privada. A cultura não é um gênero de primeira necessidade, as administrações públicas não têm interesse em despejar recursos na quantidade necessária para a Cultura. E que opção resta aos gestores? Buscar recursos com empresas que têm boa vontade e consideram a Cultura um bom investimento. Mas aí, se a Secretaria de Cultura não tem uma conta para receber estes recursos e ainda fica atrelada pela burocracia oficial, fica muito difícil que estes recursos cheguem a quem realmente interessa, ou seja, às pessoas que fazem cultura.
Uma fundação teria a liberdade e o trânsito para cuidar destas questões de maneira mais direta, administrando diretamente os recursos. Haveria mais identidade com o setor e mais flexibilidade na hora de firmar convênios e parcerias, sem contar que não teria (supostamente) a influência política.
Outras cidades já optaram por este modelo, uma delas é a nossa vizinha Gravataí que criou há pouco mais de dez anos a Fundarc e lá, as coisas parecem correr bem.
Ampliemos o debate
Sei que esta opção não deve ser tomada da noite pro dia. Mas devemos começar logo esta discussão. O modelo que hoje nos é apresentado não serve. Uma secretaria tem que ter mais força ou naturalmente vai acabar mesmo tornando-se um departamento e isso nós não podemos admitir. Eu particularmente acredito no modelo de uma entidade com mais autonomia e levanto esta bandeira. Mas admito que temos muito ainda para discutir.
Coluna publicada em 28 de junho de 2008.