domingo, 9 de novembro de 2008

Sobre Baracks e Obamas

Esta semana na reunião de todos os colunistas do Diário de Viamão que possuem título de eleitor aqui na cidade (eu e o Hélio Ortiz) concluímos que o texto que foi tachado de racismo lá em Pelotas deixou-nos deveras encagaçados. Sério, é isso mesmo! O Hélio queria tecer alguns comentários a respeito da vitória do Obama lá nos esteites e relacionar com o mês da Consciência Negra, aqui no Brasil, mas temeu, com razão, não ser bem compreendido.
Quanto a mim, acho que nem adianta dizer que sou casado com uma negra. Não vai adiantar se a mensagem não for bem entendida. Mas não é a patrulha que me preocupa. O que me preocupa é a patrulha míope, que enxerga guampa em cavalo em tudo quanto é canto.
Nada mudou
A minha idéia era trilhar pelo caminho de uma frase que o Presidente Lula disse ao explicar porque acreditava na vitória de Barak Obama, na corrida presidencial americana. Lula disse que o mundo estaria mudando e se o Brasil já elegeu um operário para a presidência seria hora dos Estados Unidos elegerem um homem negro. Mas nem a América nem o Brasil mudaram!
Quem mudou na verdade foi o Lula. Foram necessárias três derrotas nas urnas para que o PT formatasse um novo presidente, sem abrir mão de seu maior ícone. Foi o Lula quem teve que mudar o guarda-roupa e vestir ternos alinhadíssimos, para cair no gosto da classe dominante e endinheirada que aprovou o upgrade e influenciou a classe média, garantindo a vitória do Luis Inácio nas urnas.
Adivinhe quem vem para jantar
Obama não é diferente disso. Em 1967 Sidney Poitier estrelou um filme que mostrava o choque para uma família “branca” americana, a recepção ao namorado da filha, um negro, mesmo que este fosse um renomado médico. Era o retrato de uma época que ainda resiste em muitas partes dos Estados Unidos, país que pode ter abolido a escravidão antes de nós, mas patrolou toda a herança cultural africana de seu povo, principalmente a religião.
Obama é o negro que a família branca americana permitiria que namorasse com a sua filha. Bom moço, de bons modos, bom vocabulário e elegante, é o tipo que está acima de qualquer preconceito. É como o Wilson Simonal, que na década de 1960 balançava os corações das moças de família. Ou como Pelé, que muitos diziam, reafirmando o preconceito, que era um “negro de alma branca”.
Branco e triste
Mas isso não importa. O que interessa é que o mundo abre suas janelas para uma nova era de esperança pela paz mundial. Por novos ventos que soprem pelo desenvolvimento e pela volta à tranqüilidade econômica a que todos estavam se acostumando. E Obama sintetiza tudo essa vontade americana. Mas não me sai da cabeça, nesta hora, uma música do Gilberto Gil que resume, talvez, tudo aquilo que tentei passar nestas linhas.
“Bob Marley morreu
Porque além de negro era judeu
Michael Jackson ainda resiste
Porque além de branco ficou triste.”

De volta ao começo
Por fim um recadinho para meu colega Hélio Ortiz: não te preocupa, o povo gosta é de ver fotografia. Ninguém lê!
Coluna publicada em 08 de novembro de 2008.

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