sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A festa do Ser Supremo

A história é mais ou menos assim. Neste lugar, uma minoria era dona de quase tudo e gostava da situação. Mandava e desmandava, e enriquecia às custas do povo oprimido. Para ter um pedaço de terra, só se os magnatas deixassem. O lugar ‘tava às moscas’, porque esse pessoal do poder não estava nem aí para a turma da segunda classe, que dirá da terceira. Não tinha, hospital, escolas, estradas, mas ‘que se danem’, pensavam os tiranos, enquanto enriqueciam cada vez mais.

Capitulo um
Aí apareceu uma turma que tava a fim de mudar a parada! Se organizaram e lideraram os trabalhadores do lugar para tomarem o poder, nem que fosse na marra! E conseguiram. Arriaram do poder os centenários mandatários e começou um novo tempo por aquelas terras, baseados nos ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, mas isso cheirava mais a socialismo.
E não é que os caras conseguiram mudar o bagulho! O povo estava no poder. Criaram até um tal de Orçamento Participativo, que era para o povo dizer como queria que as coisas acontecessem. Uma maravilha! O povo ditando seu próprio destino. E a coisa foi melhorando. Deram um jeito na Educação e na Saúde, que agora eram obrigações constitucionais do Estado e o desenvolvimento começou a chegar.

Capitulo dois
Aí um dos que ajudaram o povo a tomar o timão do destino conseguiu chegar ao mais alto degrau da escada governamental. Também estava embalado pelo ideal socialista e trabalhista que respeitava e incentivava o trabalhador a participar de todo o processo. Mas ele gostou tanto de mandar, que ficou com medo de perder o poder, algo natural e inerente à nossa condição animal.
E começou a ficar desconfiado de tudo e de todos. Enxergava ameaças em qualquer canto e logo partia para a eliminação dos supostos adversários. Dizia que não era contra ele que as forças estavam se movimentando, era contra o sistema modelar de poder do povo. Uns achavam que ele tinha minhocas na cabeça, mas que diabos, ele dizia que queria preservar o estado democrático de direito e o conjunto da sociedade como um todo, e o pessoal foi aceitando a sua caça às bruxas.

Capítulo três
Aí o homenzinho começou a perder a razão. Aniquilava seus inimigos e ditava as regras no lugar. Nada acontecia sem a sua supervisão ou fora de seus olhares. Com medo de que novos ícones interferissem no projeto de poder popular que exercia, acabou com todas as festas populares. Nada podia acontecer sem a sua autorização, sob pena de serem banidos aqueles que ousassem contrariá-lo. Nenhuma manifestação poderia ser realizada de forma voluntária e independente. E seus asseclas e lacaios, minavam a opinião pública prejulgando e condenando os que reagiam a estas decisões.

Capítulo quatro
Mas o homenzinho percebeu que o seu povo estava triste sem festas, sem comemorações, e resolveu então proporcionar ao lugar uma festa onde todos pudessem se divertir. Encarregou alguns CCs (Corpos de Confiança) para que ornamentassem os jardins e conclamassem o povo, que recebeu convites para prestigiar o festival prometido pelo detentor do poder, agora absoluto. A esta festa deu-se o nome de Festa do Ser Supremo. Durante as comemorações, o homenzinho programou um final apoteótico, onde uma grande estátua do Ser Supremo seria inaugurada.
Quando desceram o pano, para espanto geral dos presentes, a estátua era a representação literal do homenzinho! Aí a turma começou a ficar preocupada. O cara já não estava batendo bem das idéias.

Epílogo
Para muitos historiadores, a Festa do Ser Supremo foi responsável pela derrocada de Robespierre. Passo a passo, a França revolucionária entrou em refluxo. Sepultou-se por muito tempo a idéia de uma democracia das massas. De República radical, a França transitou para a calmaria do Diretório, em 1795, que por meio de um golpe fez chegar ao poder um jovem general, Napoleão Bonaparte.

Nenhum comentário: