sexta-feira, 20 de junho de 2008

Nossa Língua

Ouço com freqüência rádios pela Internet. Não aquelas que a gurizada insiste em criar, que alguns inventam e acreditam que vão estourar líderes de audiência. Que audiência que nada, mané! A Internet não é mídia para isso. É só um veículo para alcançar outros espaços. É assim que tem que ser. E é assim que eu utilizo. Quando estou na web posso ouvir as rádios locais com alta fidelidade, ou ouvir rádios interessantes de outras plagas. A que eu mais ouço é a Antena Um, de Portugal. A Antena Um de lá não tem nada a ver com a homônima aqui do Brasil que toca música vinte e quatro horas por dia. A Antena portuguesa faz parte da RTP, uma empresa pública de comunicação que faz um excelente trabalho de divulgação da cultura e da informação para Portugal e para os países de língua portuguesa. É como a BBC inglesa, ou a Rádio France. São instrumentos a serviço de suas línguas. São três rádios que compõem a rede pública de rádio em Portugal, mais as rádios para as ilhas d’além-mar e outra para os paises africanos de língua portuguesa.
Muitos sotaques
A primeira coisa que vem à mente quando pensamos em Portugal e outros países que compartilham nossa língua, é o sotaque e o vocabulário do lado de lá do Atlântico. É mito! Simplesmente mito. O modo de falar dos lusitanos e seus chiados não deveria ser uma desculpa à falta de integração. Pode assustar no começo, mas acaba inteligível. Nós é que somos preconceituosos e acostumados com a profusão de piadas e estereótipos criados ao longo dos anos. De resto é muito linda e melodiosa a maneira de falar de nossos patrícios. Seu vocabulário é muito mais rico e esclarecedor, às vezes, que o nosso.
E o mais fascinante é que os portugueses adoram o Brasil. A música brasileira toca direto. Volta e meia um ou outro entrevistado confessa que sua inspiração é a terra de Pindorama, nosso calor, nosso jeito de levar a vida. E esse amor é tão grande pelo Brasil que eles estão sacrificando mais uma vez a “última flor do Lácio” em prol da unidade lingüística. Não vou aqui enumerar nenhuma dessas aberrações que se propõem. Vinha rezando para Santo Antônio e pra Nossa Senhora de Fátima pra que esta unificação gramatical não se consumasse, mas acho que foi em vão.
Culpa da globalização
Uma das alegações dos reformadores da língua é que a internet está criando uma nova forma das pessoas se comunicarem e que a padronização de algumas regras gramaticais nos sete países de língua lusitana vai facilitar a vida da população. Eu francamente acho que a língua não deve ser considerada um problema. Mas liquidificar normas e palavras já é demais. Esse acordo na verdade vem enfraquecer nossa língua, pois estaremos mais uma vez nos curvando à globalização. E o pior é que é o nosso país a porta de entrada para essa terraplenagem ortográfica. Para termos uma idéia do que está ocorrendo, é bom lembrar que de cada mil palavras, nós brasileiros só vamos alterar cinco. Para os portugueses esta mudança será mais sentida, pois serão dezesseis palavras em cada mil. E o que faremos com todo o material publicado hoje em dia? Você já se deu conta que da noite pro dia nossas publicações estarão obsoletas? Serão coisa do passado. Como os livros que foram aposentados na última reforma da língua portuguesa. No fundo, parece que o que estes reformadores estão fazendo é querer reinventar a nossa língua. Que Camões tenha piedade de suas almas!
Coluna publicada em 7 de junho de 2008.

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