sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sabotados

Você conhece alguma grande frase de algum grande viamonense? Já sei que os bem-humorados vão perguntar se existem grandes viamonenses. Boa essa! O fato é que os historiadores sempre se valeram deste artifício na hora de construírem personagens da história, para dar uma dimensão super-humana ao biografado ou ao evento. Mas voltando à pergunta inicial, você arriscaria um palpite? Talvez este fato esteja mais relacionado à falta de registros de nossos quase trezentos anos. Somos um município tão extenso que não é possível que não tenhamos algum grande acontecimento pra marcar nossa passagem pela civilização.
Aí chegaremos à conclusão que somos sabotados. Por nós mesmos e pelos outros municípios. Se você lembrar que tudo que existia abaixo de Laguna era conhecida como Campos de Viamão, então Viamão tem um papel fundamental na formação de nossa cultura riograndense. Muita coisa que aconteceu nos primeiros cem anos de nosso estado aconteceu na verdade em Viamão, pelo menos no que era conhecido como tal. Mas não temos este reconhecimento. Nem fazemos força para isso.
Claro que não estou pregando aqui a cobrança incondicional desta situação. Não devemos sair por aí, em nossas viagens e passeios, cobrando dos municípios vizinhos o reconhecimento de que um dia tudo era Viamão e que eles devem se curvar à nossa grandeza. Eles têm sua história pra contar e isso já é mérito deles, mas temos que fazer isso dentro de Viamão. Discutir, estudar, pesquisar. Criar subsídios e dar liberdade aos nossos historiadores para lançarem suas teses. Temos muito pra contar e tão pouco tempo. As gerações vêm e vão e ainda engatinhamos na nossa história. Sei que temos grandes nomes e grandes frases, mas temos que descobri-las urgentemente, em nome da nossa auto-estima. Nem que seja uma frase média!
Lista
Elogiável a atitude da Prefeitura Municipal de elaborar uma lista com os imóveis passíveis de tombamento pela importância histórica para o município. Mas muita gente tem me perguntado se não existe nada com valor histórico no Quarto Distrito. Será que só o centro e a zona rural foram os formadores de nossa história?
Denúncia
Também causou estranheza a afirmação da promotora pública de que o Ministério Público tem atuado em denúncias contra os bens considerados de valor histórico. Como? Há poucos meses denunciamos que a casa que foi sede da Chácara dos Scliar, na Cecília, estava sendo colocada abaixo e nada foi feito. Mandamos mensagens para o MP e ninguém respondeu. Fomos à Prefeitura e ao Iphan e ninguém tinha uma solução. Resultado: a demolição continuou e uma loja foi construída em parte do terreno remanescente daquela chácara, que quando loteada deu origem à Vila Cecília. Ficou hoje somente um pedaço da edificação que um dia hospedou Jorge Amado e Zélia Gatai, quando o escritor baiano fugia da repressão do Estado Novo, na Era Vargas. Demoliram a casa que foi berço da esquerda gaúcha. Demoliram a casa que serviu de estúdio para um dos maiores artistas plásticos brasileiros, Carlos Scliar, que da Cecília levantou vôo e foi parar em Paris.
O mais engraçado é que levávamos nossa indignação a muitas autoridades municipais e eles lembravam com carinho da velha casa, muitos até diziam ter freqüentado a casa (o PT fez muitas reuniões ali quando começou a se formar, aqui em Viamão), mas ninguém mexeu um dedo.
Então não venham me falar em Ministério Público atento e em boa vontade da Prefeitura. Assim como a casa dos Schonwald, a casa dos Scliar também foi ao chão e ninguém fez nada! Enquanto pensarem que só o centro de Viamão tem caráter histórico nossas autoridades estarão negligenciando nosso passado. E não há nada que se possa fazer a respeito disso?
Coluna publicada em 21 de junho de 2008.

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