sábado, 7 de novembro de 2009

Rir ainda é o melhor remédio

No final do ano passado, durante a Conferência Municipal do Turismo, realizada na PUC-Viamão, em um dos grupos de trabalho e discussão de que participei, levantamos a questão que Viamão não teria (ainda) um animal símbolo, algo que representasse nossa cidade, uma mascote que pudesse ser explorado turisticamente. Algo que atraísse a atenção de quem chega ou tem vontade de conhecer nosso município.
Uma idéia me veio à cabeça:
- Por que não a mula?
Alguns dos colegas de debate deram de ombros, acharam que eu estava brincando, mas outros, percebi, ficaram um tanto ofendidos com a colocação.
Não estava brincando, com certeza. Não podemos esquecer que os muares foram uma das riquezas de nossa terra, quando tudo que interessava à Coroa Portuguesa eram as maravilhas, em ouro e diamantes, que as Minas Gerais produziam. Tanto que uma mula “bem formada” valia uma boa quantidade de escravos. Daqui da região dos Campos de Viamão saiam as grandes tropas que abasteciam o mercado sorocabano de mulas, que por sua vez abastecia às Minas Gerais.
Mas isso não vem ao caso. O que interessa, e quero voltar ao início, é a reação das pessoas. Aquelas que se fizeram ofendidas. Paro aqui para fazer uma afirmação: Não sabemos rir de nós mesmos! Não estou falando da espécie humana. Estou falando do viamonense. É verdade. Prova disso é que talvez você esteja agora ofendido com essa afirmação.
Li há poucos dias uma entrevista do Chico Anysio, enquanto esperava em algum lugar que não vem ao caso, quando lhe perguntaram como ele explicava o fato de brotarem tantos humoristas e comediantes das agrestes terras nordestinas. Para Chico isso é um subproduto da seca e da miséria. As pessoas estão tão acostumadas, tão íntimas das agruras da fome e das doenças, que só lhes resta rirem. Rir da morte, rir das cotidianas condições de subsistência. Talvez isso também explique o humor judaico, sei lá.
Mas o fato é que o viamonense não ri dele mesmo. Claro que damos boas risadas de nossas estripulias, dos amigos, de algumas situações. Mas não sabemos rir de nossa condição. De nossa relação com Porto Alegre, de nossos problemas diários, de nossos políticos, de nossas personalidades locais. Somos a capital do “dê-se ao respeito”. Já notaram nossa imprensa? Não temos chargistas que retratem nosso dia a dia, algo pitoresco, porém, relevante. E aqueles que ousam tentar não encontram nem material quanto mais espaço para divulgação. Alguém conhece alguma caricatura de alguma personalidade política de Viamão? De alguma figura da sociedade viamonense? Se elas existem estão guardadas para consumo interno, familiar.
Quando estávamos na escola sempre tinha aquele cara que colocava um apelido e que nos molestava diuturnamente. E se deixássemos transparecer nosso desconforto, aí era pior. Aprendi que se brincarmos junto, aproveitarmos a “zoação” para purgarmos nossos males, a “fúria” dos inventores de apelidos e piadas fica neutralizada. Mas nós, viamonenses, não! Não brincamos, sob hipótese alguma. Até achamos graça, afinal somos “seresumanos”, mas não incentivamos. Vai que alguém vire a metralhadora para dentro da trincheira.
Coluna publicada originalmente em 26 de junho de 2007.

Nenhum comentário: