sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Bairrismo

Não sou do tempo dos homens de terno vermelho. Mas sei que foi uma invenção da CDL de Porto Alegre com forma de constranger os maus pagadores. Se você atrasava suas contas no crediário, poderia receber a visita destas figuras que, pela cor do traje, constrangiam os inadimplentes junto à sua vizinhança. Quem é que gostaria de receber tal visita? Ninguém! Hoje em dia com tantos direitos para o consumidor ninguém se arrisca a colocar o cliente numa saia justas dessas.
Mas sou do tempo que cada loja tinha o seu crediário próprio. Não era essa profusão de cartões de crédito e bandeiras bancárias que oferecem crédito direto ao consumidor. Íamos ao Centro (e estou me referindo ao Centro de Porto Alegre, como todo bom isabelense) e passávamos, com minha mãe, mais tempo no setor de crediário do que propriamente comprando, para responder os intermináveis questionários do cadastro. Os mais velhos devem lembrar: muitas lojas pediam referências e o melhor era já apresentar os carnês de compras e, de preferência, em dia.
Acho que foi nessa época que começaram a chamar as vilas de Viamão de “bairros”. A gente chegava à loja e quando dizia que era de Viamão, vinha a pergunta: “Qual a parada?”. Não importava se a sua casa fosse longe demais de uma parada, tinha que relacionar. Assim todas as vilas da Grande Santa Isabel eram da Parada 32. Mas logo em seguida, quando as lojas passaram a entregar para o proponente a ficha de cadastro, para ele próprio preencher, apareceu uma palavra que não estávamos habituados a usar: bairro. Mas Viamão só tinha vilas, como é que fica?
Há pouco tempo atrás um vereador de nossa cidade decretou, via projeto de lei, que nossas vilas estavam promovidas à categoria de bairro. Só pra aumentar, segundo ele, a auto-estima dos moradores que se sentiam discriminados: quem mora em “vila” é “vileiro”. Nem adianta lembrar que a origem da palavra remonta às conquistas romanas que definiam as casas de campo dos nobres romanos como “villa”. O importante é que Viamão não tem ainda bairros. O novo plano diretor, aprovado no final de 2006, parece que definiu dez grandes divisões territoriais para nossa zona urbana, que iriam determinar os bairros de nossa cidade, mas acho particularmente que não se respeitou a história de cada região. Não dá pra reunir a Grande Santa Isabel e a Grande Cecília num grande bairro. Assim como a São Tomé e a Santo Onofre não podem ser um bairro único. Mas as vilas e pequenas denominações ao redor de uma referência podem ser agrupados num só bairro. Assim poderíamos reunir as Augustas e as vilas próximas num novo bairro. O Santa Isabel, também seria a união das vilas que hoje já se consideram integrantes da Santa Isabel, e assim por diante. A melhor opção seria deixar a cidade se organizar, pela afinidade entre os nossos núcleos urbanos. E aí talvez a coisa funcione. Mas que a prefeitura não tome a responsabilidade para si. Nem os vereadores, senhor presidente! Porque as coisas parecem funcionar melhor quando nossos poderes constituídos não se mechem. Senão as coisas não acontecem mesmo. E nem me falem em Ministério Público!
Santas Cecílias, Batman!
Tomamos a liberdade, eu, o Lilja e o Binatti, de organizarmos um Fórum de Discussão (bonito, não?), para deliberarmos algumas soluções para o grande dilema da Vila Cecília: afinal, a Cecília é santa ou não? E também aproveitamos para tentar resolver o grave problema dos ônibus municipais que insistem em usar o “santa” na frente do Cecília. Já que não conseguimos comover os gerentes das empresas para que consertem os letreiros (é só “Cecília”), vamos iniciar um processo de “beatificação” de todas as linhas de ônibus, e para isso vamos convocar os párocos de todas as igrejas viamonenses. Por isso, de agora em diante a Monte Alegre passa a se chamar São Monte Alegre, o Elza será o Santa Elza, o Fiúza também será santo e até a Brahma, que já era engarrafada, agora também é santificada. Só não resolvemos como chamaremos o Santa Isabel, o São Tomé e o Santo Onofre.
Coluna publicada originalmente em 19 de abril de 2008.

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