quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Santa Catarina

A e21, agência de publicidade, tem sede em Porto Alegre, mas conta com um escritório em SC. Vários clientes, tanto que o diretor Luciano Vignoli passa pelo menos dois dias da semana por lá.
Um diretor de Criação da e21 recebeu de uma amiga um depoimento comovente, estarrecedor sobre a situação dos catarinenses. Só me cabe publicar.Leia:
Meus amigos
Tenho recebido e-mails ou telefonemas de alguns de vocês perguntando se estou bem.
Obrigada! Estou sim. Tenho casa seca, água potável e energia elétrica. Também tenho saúde e trabalho. E tenho vocês todos.
Mas vou lhes contar que alguma coisa mudou. Os últimos dias acrescentaram um sentimento novo em mim e em quase todos que vivem aqui em Santa Catarina. Uma mistura de espanto com tristeza e medo. As pessoas choram com facilidade por aqui e só me recordo de uma reação coletiva dessas quando o Airton Senna morreu.
Uma grande parte do estado foi destruída. O volume de água que cai sem parar desde fins de agosto encharcou de tal forma a terra, que tudo em volta está desmoronando. As estradas se desmancham causando enormes transtornos e um prejuízo econômico gigante. Vocês conhecem aqui: Há muitos morros, muitas encostas, muito verde, muita terra. Imaginem um sorvete derretendo. Palavras do Luiz Henrique.
Mas o pior cenário é o inferno molhado em que estão vivendo as milhares de pessoas do Vale do Itajaí. Imaginem toda uma cidade coberta até o topo das casas de água. Imaginem todos os teus pertences encharcados e apodrecendo, tudo! Roupas, móveis, brinquedos, fotografias, documentos. Imaginem estar assim, e ainda não ter energia elétrica. Não ter água potável para beber nem para limpar-se. Não ter comida, não ter informação alguma. Imaginem tudo isso e ainda ter medo dos saqueadores, que como piratas modernos passeiam de barquinhos pelas madrugadas ameaçando famílias e roubando o pouco que se salvou. Imaginem os corpos de animais boiando à deriva. Imaginem pessoas doentes vivendo neste ambiente, imaginem velhinhos, bebês. Não. É bem pior do que se imagina.
A população está saqueando lojas e mercados em busca de alimento. Descontrole. Desespero, e claro, bandidagem também. Existem cidades que ainda não foram contatadas, como Luis Alves por exemplo. Faz 5 dias que ninguém sabe como estão lá. Falam em muitos mortos.
Aqui em Florianópolis os danos são menores, mas quem conhece a SC 401, caminho que leva às praias do norte, sabe o que é ficar sem essa estrada. Pois de ambos os lados caíram os morros e as pedras. Lembram do buraco do metrô em SP? Parecido. Encontraram um caminhão com a porta aberta, vazio. O motorista era de Carazinho. Ele havia feito o transporte de uma mudança e pela primeira vez vinha a Floripa. O corpo foi achado ontem, ele tentou escapar, mas foi soterrado. Acreditam que há mais automóveis lá dentro. Não se consegue achar. Os especialistas do tempo não estão otimistas. Predizem que os tais 2 fenômenos que, em conjunto, causam essas chuvas estão longe de dissiparem-se. Os pescadores, que também são especialistas mas de outra ordem, dizem que as chuvas ficam até março. Não posso acreditar nisso, nem quero. Me sinto frágil, inapta e desnecessária. Vou doar algumas roupas, água e comida não perecível, mas acho tão pouco. Os bombeiros e a defesa civil não dão conta do socorro e da limpeza. Precisam de voluntários para as triagens de comida e remédios. Mas para tanto é necessário ter disponibilidade total. Não adianta só um fim de semana, pois não se sabe se depois de chegar nas áreas atingidas quando se retorna. Ou como. E o Natal vem aí. E como será para toda essa gente? Em volta de que mesa? O nosso será bom, será farto e talvez feliz. Antes de lamentarmos pelas bobagens que lamentamos diariamente vamos dar vivas a tudo o que temos. Principalmente, uns aos outros.
Depoimento extraído do site do jornalista Previdi: www.previdi.com.br em 29 de novembro de 2008.

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