quinta-feira, 9 de abril de 2009

A grama do vizinho

Quando fui estagiário da Prefeitura de Porto Alegre, em 87, tinha um colega que morava lá no fim da Lomba do Pinheiro. E ficávamos debochando um do outro, tipo: quem morava pior. E todo o santo dia, na Kombi que nos levava para os serviços externos era a mesma conversa fiada: morar em Viamão é ruim, mas no Pinheiro era muito pior, dizia pra implicar com o coitado e ele rebatia:
- Pelo menos moro em Porto Alegre!
E assim ia até que o Ricardo, que morava na zona sul, interveio:
- Nem Viamão, nem Lomba do Pinheiro. Bom mesmo é morar na Tinga!
O Ricardo acabou com a bagunça. Não tínhamos como enfrentar a sua assertiva. A Restinga era respeitável e sem dúvida era mais bem tratada, apesar da distância. A Tinga tinha os melhores ônibus, uma escola de samba (que enfrentava as tradicionais Bambas e Imperadores) e elegia sozinha seus vereadores (quase sempre diretor de alguma autarquia municipal), e por aí vai. Mas isso não interessa.
Supremacia viamonense
Depois que saí da Prefeitura perdi contato com este meu colega. Mais tarde, no tempo das festas da Sogisi, ele apareceu pela noite da Santa Isabel. Era freqüentador assíduo. Havia se rendido à nossa vila e até casou com uma guria daqui. Mas continuou morando na Lomba do Pinheiro. E eu sempre mexia com ele: Viamão ainda era melhor! E agora ele concordava. A Via do Trabalhador uniu o Pinheiro com a Santa Isabel, mas levamos certa vantagem, pelo menos nos primeiros anos.
Mudanças na paisagem
Aqui da Aparecida, das ruas mais altas, hoje se avistam as mudanças que estão acontecendo na paisagem por de trás do Saint Hilaire. Bem ao sul, lá pela parada 14 da Lomba do Pinheiro, prédios de apartamentos estão brotando do chão. Na subida para o Jardim da Paz, o mais moderno centro de produção de processadores e chipes da America Latina. Condomínios de classe média nascem aproveitando a proximidade com o centro da capital. A mesma distância de Viamão.
Onde erramos?
Nem vale a pena fazer esta pergunta. Muitos vão responder que não erramos, de maneira alguma. Então deixa prá lá? Não mesmo!
Esse talvez seja o nosso grande erro. Não queremos comparações. Ou melhor: não admitimos comparações. Não ousamos, e não queremos ser comparados com quem ousa. Não investimos e insistimos que é covardia a comparação com que tem coragem de investir.
E não falo apenas de nossos governantes, não senhor! Por que estes são uns pobres coitados que não conseguem nem passar da 31. Falo de todos nós. Em todos os debates que fazemos temos que nos contentar (resignação seria a palavra certa) com pouco. Foi assim no Carnaval, é assim no Arroz com Leite e também na corrida eleitoral. Sempre nos contentamos com o menos pior. Com o suficiente para nossa comunidade, nunca o melhor, apenas o suficiente.
Respeito
E me incluo neste círculo vicioso, caro leitor, com certeza. Pois sou viamonense também, ora! Mas isso só piora ainda mais a nossa situação. Faz com que não tenhamos mais respeito por nós mesmos e sendo assim, quem nos respeitará?
Por isso quando chega a vez de elegermos representantes em nível federal e estadual, os forasteiros vêm pilhar nossas urnas. Por isso as empresas vêm de fora, nos exploram e vão embora, ou ficam sem olhar com carinho para a nossa terra. Por essas e outras, e por não sabermos fazer o básico é que nossos líderes recebem puxões de orelha dos figurões de Brasília, que precisam nos mostrar o que está bem na frente dos nossos olhos. Talvez palmadas sejam mais apropriadas.
Mudando de assunto, mas nem tanto
Não pude comparecer na apresentação que a Acivi preparou para o projeto “Eu elejo Viamão, e você?”, mas sei que já é um bom começo para acabarmos com essa apatia generalizada. A Acivi tem nos últimos anos assumido o seu papel na sociedade viamonense, que é cobrar e incentivar mudanças na forma de pensar nossa cidade. A turma do André Pacheco está de parabéns. Só falta agora é criar uma seção da entidade para o Quarto Distrito. Aos poucos a gente vai amadurecendo esta idéia. Não é mesmo André?
Coluna publicada em 28 de março de 2009.

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