Amigos e familiares tiveram então que acionar a Justiça, que através de ordem judicial, conseguiu uma vaga para o acidentado em um hospital na região central do Estado. Porém o quadro do paciente era muito grave e não foi possível a remoção para outra cidade. Na sexta-feira passada, depois de quase uma semana à espera de melhores acomodações e tratamento, José Alexandre faleceu.
Para quem não sabe, José Alexandre Marchezotti Iranzo era uma das mais conhecidas figuras da Santa Isabel. Mas não era conhecido com o seu nome e sobrenome de batismo. José Alexandre era conhecido por todos como o Zé Tôcha, o carregador de ranchos que, desde os tempos do Poko Preço (supermercado que se instalou onde antes funcionava o Cine Rian, bem no centro da Santa Isabel), ganhava uns trocados transportando os ranchos das donas de casa da vila, em seu carrinho de mão. Ele e outros carregadores tinham ponto fixo e tradicional, e a disputa pelo melhores fregueses era bastante acirrada. Foi assim que ele cresceu, trabalhando, e ganhou fama na região, querido por todos. Seu carrinho para transportar ranchos era sensacional. Até sistema de som tinha! O Zeca, que tem uma autoeletrica na Liberdade e que conhecia o Zé desde criança foi que ajudou a instalar o equipamento, com bateria, autofalantes e um potente rádio. Era o seu orgulho.
- Tu é tôcha! Casô com muié bunita? Agora é corno!
- Não tem dinhêro pá tomá ceveja? Tu é tôcha! Vai trabaiá qui nem eu!
Num primeiro contato havia quem achasse seu tom meio agressivo, mas era só a maneira dele falar. Depois via que era um cara de bom coração. E todo mundo cuidava dele. Todo mundo brincava com ele, com o mito e as estórias que contavam, mas a gente sabia a hora de parar e muitos até o protegiam daqueles que não entendiam os limites da folgação.
E a turma se divertia com o Zé. Nas festas da Sogisi, ficava paquerando a mulherada, na paz, dançando e bebendo a sua cerveja, comprada com a suada função de carregador de rancho. Aliás, muitas vezes a turma toda tinha dinheiro para uma cerveja só. O Tôcha não! Tinha sempre sua grana para fazer a festa. E de novo ele tinha razão: nós é que éramos trouxas. E pelados!
Quando o Diário de Viamão lançou uma série de reportagens com as personalidades que todo mundo conhece na cidade, eu e o Sandrinho fizemos um lobby na Redação para que o Tôcha fosse um dos entrevistados. Como a promessa era de que a série voltaria ainda este ano, estávamos esperançosos de que o Zé pudesse pintar nas páginas do DV em breve.
Não deu. Deus tinha outros planos para o Zé.