domingo, 11 de maio de 2008

Drops

I
Tem um ditado que diz: “quando troveja é que se lembra de Santa Bárbara”. Pois esta semana, com a tragédia que se abateu sobre nós, quando se oficializou o luto nacional de três dias, me dei conta de que não temos em nossa cidade muitas bandeiras hasteadas para colocarmos a meio mastro. Vinha ao centro e resolvi sair da Santa Isabel procurando. O primeiro trio (bandeira nacional, estadual e municipal) avistei em frente à fábrica dos Vontobel, ali na 42. E estavam no topo de seus mastros. Ao lado, na guarnição dos Bombeiros não havia nenhuma bandeira. Depois o trio tremulava sob a marquise do Colégio Farroupilha, o municipal, na altura do Beco dos Cunhas. Pelo estado precário das bandeiras, acho que ninguém na escola lembra que elas estão lá, e talvez por isso elas não estivessem em posição apropriada para o luto. Daí até o centro só fui avistar novamente nossas flâmulas defronte à Casa Legislativa, e estas sim prestavam a reverência os mortos do 3054. Estavam a “meio pau”.
II
Sempre estudei em escolas públicas. Da primeira série até o último ano da faculdade. Lembro que tínhamos aulas de Moral e Cívica (particularmente achava, na época, um saco) e ainda na universidade cursei EPB – Estudos dos Problemas Brasileiros que, tirando a nova abordagem, era a mesma Moral e Cívica de outrora. Nestas aulas de Moral e Cívica aprendíamos como respeitar os símbolos nacionais (o hino, a bandeira, o brasão das armas e o selo). Não lembro de todas as regras para o hasteamento da bandeira, mas lembro que ela deve ser hasteada nas escolas pelo menos uma vez por semana e que deve ser recolhida se não tiver iluminação apropriada.
III
Isso tudo parece tolice, mas vivemos uma época em que os valores estão sendo cada vez menos respeitados. Entrei esta semana na escola onde cursei o primeiro grau e percebi o som alto que vinha de uma sala que, se atrapalhava o ambiente no corredor, deveria incomodar as salas de aula vizinhas. Comentei com a funcionária que controlava um pesado portão que mantém os alunos nos corredores que o som parecia excessivo e ela respondeu que era da sala de áudio-visual. Que estavam usando a sala pra assistirem vídeos-clipe. Sabe-se lá que trauma nossos jovens poderão sofrer se alguém mandá-los baixar o volume, ou desligarem seus players emipêtrês.
IV
Talvez nada tenha a ver com nada, mas a crise de valores se aprofunda quanto mais superficial fica o compromisso de nossa sociedade com os princípios humanos de civilidade. Outro dia, na TV, um professor lamentava a falta de cultura “enciclopédica” que nossa juventude possui (os mais novos podem não acreditar, mas enciclopédias eram grandes ferramentas de aprendizado num passado não muito distante). Alimentamos suas mentes com a “papinha” da ignorância, dando a eles aquilo que eles querem e na hora que eles querem. O único desafio que seus cérebros suportam é o dos videogames. E então procuramos desculpas para a falta de civismo, de respeito aos valores sociais, de respeito aos seres humanos. Não temos desculpas. Temos é que ter vergonha da mediocridade que nos assola.

Colado no rádio
Nunca consegui acompanhar futebol pelo rádio. Sei lá, não consigo visualizar o cenário pintado pelos locutores. Morro de inveja de quem vibra com o enredo futebolístico pelas ondas sonoras. Mas tirando isso sou fascinado por rádio. As primeiras notícias sobre o acidente, de terça-feira, fiquei sabendo pelo rádio no carro. Cheguei em casa e corri para a TV, mas quando as noticias e imagens tornaram-se repetitivas, voltei pro radinho. Nessas horas, como no 11 de Setembro ou no desastre do vôo da Gol, ano passado, o rádio mostra-se o companheiro ideal. Ponto pro rádio, que muitos acharam que estaria condenado com as novas tecnologias, como a internet e a TV digital.

3054
Lembrando a todos que desde quarta-feira o milhar e a respectiva centena estão rebaixados.
Coluna publicada em 21 de julho de 2007.

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