domingo, 11 de maio de 2008

O mês dos desfiles

Na minha vida escolar em Viamão, acho que deixei de participar do desfile cívico uma única vez. Em compensação em alguns anos desfilamos duas vezes, na Santa Isabel e no Centro. Devo confessar que detestava. Mas vamos combinar, acho que tirando a gurizada das bandas, que tinham um envolvimento maior e era o centro das atenções, só uma meia dúzia realmente gostava. Íamos obrigados e em troca de nota no boletim. Acho que ainda é assim. Na época, estávamos em pleno regime militar e a disciplina e o “eu te amo meu Brasil” era o mote das comemorações da Semana da Pátria. Nem o ideal farroupilha era explorado então, justificando as três semanas de comemorações que acontecem hoje em dia.
II
O fato é que só depois que crescemos, já com os filhos em idade escolar, compreendendo melhor a verdadeira noção do civismo, conseguimos valorizar estas manifestações, os desfiles, as comemorações da semana da pátria, a semana do município e a semana farroupilha (talvez sejamos a única cidade do estado que tem quase um mês de festas cívicas). Hoje faço questão de prestigiar o desfile de Sete de Setembro, na Avenida Liberdade. A comemoração da Santa Isabel, ano após ano, vem batendo recordes de público, pois segundo a Brigada Militar, mais de 30 mil pessoas passam pela avenida naquele dia.
III
O problema é que tenho notado, e a meu ver é pouco positivo, é o tamanho do desfile, que em alguns anos passa da hora em que o sol se põe. As escolas estão cada vez maiores, com mais alas, mostrando temas variados, meio-ambiente, história do Brasil, Epopéia Farrapa. Tudo muito lindo, enchendo nossos corações de orgulho, mas cansativo pra quem desfila e pra quem assiste ao espetáculo.
IV
Essa semana conversava com um “pracinha” do Batalhão de Suez, que foi a primeira participação de nossas Forças Armadas em tropas de paz da ONU, lá em 1957. Ele me informou que em Viamão moram em torno de quinze soldados daquelas forças, e falei da importância, talvez, deles desfilarem em um de nossos palcos cívicos. Ele prontamente rebateu dizendo que gostaria, mas a Secretaria de Educação, que organiza os desfiles, não deixa, ou nunca se preocupou em convidar, por isso não desfilam.
V
Se essa afirmação for verdadeira, fico muito chateado. Primeiro, por que defendo que o desfile deve ser mais popular e aberto a todas as organizações do município. Acho que deveriam limitar o número de estudantes por escola, sei lá, cem alunos mais a banda, talvez um pouco mais, e deixar espaço para a manifestação de outros grupos representados: clubes de mães, centros de tradições, associações de moradores, escolinhas infantis, empresas (sim! por que não empresas?) ONG’s. Temos que transformar nossos desfiles na verdadeira manifestação popular. E tirando as escolas que têm que mostrar um pouco mais de ordem e disciplina, poderíamos, também, acabar com a “marcação” do passo, e a ordem de fila e coluna. Os desfiles têm que ser mais espontâneos e coloridos. Nós ficamos maravilhados com o desfile dos atletas em jogos olímpicos e no último Pan, no Rio de Janeiro. São desfiles cheios de espontaneidade, e ninguém questiona o sentimento de patriotismo. A pátria não é só a organização estudantil. É o amor do povo por esse chão.
VI
Talvez não tenhamos tempo pra mudar os desfiles deste ano, mas acho que devemos pensar isso para os próximos anos. A participação maior de nossa gente pode ser uma pequena iniciativa, mas pode ajudar a melhorar a auto-estima do viamonense. Não podemos deixar que o povo só participe do espetáculo atrás da banda da última escola, como um grande bloco do arrastão da alegria.
Coluna publicada em 25 de agosto de 2007.

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