Quando mudamos para Viamão em setenta e seis, chegamos à Aparecida em pleno crescimento da área urbana, na segunda leva de novos moradores, muito em função do êxodo rural, que forçava as populações mais pobres para as periferias. Minha mãe havia chegado à Porto Alegre pouco mais de dez anos antes, para trabalhar de balconista em lojas do Partenon e ela e meu pai, depois, resolveram criar os filhos aqui em Viamão, mantendo-nos financeiramente com um pequeno armazém, que tinha de tudo, como todos os outros daquela época. Por sinal, se era Carnaval, abastecíamos nossos clientes e seus filhos com máscaras e fantasias práticas e com algum material de artesanato. Nos meses de inverno, chapéus de palha e guloseimas alusivas às Festas Juninas. No Natal, muita sidra e espumantes. Tínhamos de quase tudo. A maioria dos armazéns da região era assim. Mas isso não vem ao caso.
Lembro também que lá da frente da nossa casa, na Walter Jobim, tínhamos uma visão privilegiada do Quarto Distrito. De lá vimos nossa região crescer e naquela época, lembro bem, a nossa Grande Santa Isabel se mostrava vermelha e poeirenta. Poeirenta porque nossas ruas eram de chão batido (muitas ainda são), mas também era avermelhada e pelada, culpa do avanço suburbano sobre nossas matas e sangas. Limpava-se o lote que mostrava a cor da terra, antes que o concreto e a madeira decorassem novamente paisagem. Quem hoje circula pelas nossas ruas vai notar que este cenário já mudou bastante. Depois de consolidadas, as nossas quadras já têm um outro colorido, resultado da arborização de alguns lotes e das matas que timidamente reconquistam seu espaço.
Certa vez, numa reunião com “verdinhos” (é como carinhosamente chamamos nossos amigos ambientalistas), resolvi dar minha opinião sobre a destruição do planeta e lasquei: “não importa o que fizemos ou faremos no futuro, a natureza não está nem aí pra raça humana e no final sempre vence!”. Não preciso dizer que quase apanhei. Foi arriscado, mas pelo menos defendi meu ponto de vista. E quando quero dizer “sempre ganha” não estou dizendo que a natureza, o meio ambiente vai dar o troco. Como disse o Professor Orsi, semana passada, não somos parte do processo. Nosso único compromisso é com a nossa espécie, no sentido de que estamos vivendo uma simples “era” em nosso planeta. Temos compromisso apenas com o nosso tempo. Assim como os dinossauros, já estamos com nosso contrato de locação quase vencido. A diferença é que, ao contrário dos dinossauros, temos consciência disto.
Coluna publicada em 2 de fevereiro de 2008.
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