domingo, 11 de maio de 2008

Periferias

Você já deve ter visto no Fantástico aquela série de reportagens que a chata da Regina Casé apresenta sobre as periferias, e que foi muito legal, diga-se de passagem, mas não justificava o investimento em uma versão globalizada. A Regina acha motivo em tudo pra usar a palavra periferia e suas teses sustentam suas viagens “around the world”. Um gari dançando, nos Campos Elíseos, na Cidade Luz e pein! Olha lá a periferia se manifestando e debochando a condição de subserviência às elites primeiromundistas.
Lá e cá
Essa estória de comparar periferias de lugares distintos não tem muita razão de ser. Se por periferia se entende exclusão de um determinado processo, temos que entender que nem sempre os processos de marginalização são os mesmos. Mas muito desta marginalização se deve aos preconceitos e ao poder, nem sempre econômico, mas, quase sempre sobre os meios de comunicação, que servem de apoio ao preconceito. E isso acontece lá e aqui também, em nosso município.
Queixume
Volta e meia, alguns vereadores sobem à tribuna para ironizar ou reclamar o tratamento ou as diferenças entre algumas regiões de Viamão e a Santa Isabel. Dizem eles que algumas cabeças pensantes ficam privilegiando a região, e que isto se reflete também no zelo da administração municipal. Já ouvi esta estória antes em outros lugares. Ou vocês acham que o pessoal do Sarandi não tem bronca com o pessoal das adjacências da Vinte e Quatro de Outubro, em Porto Alegre?
Desinformação
O que estes vereadores não dizem, ou não sabem, é que a Grande Santa Isabel, a Grande Cecília e as Augustas, sempre foram vítimas de duplo preconceito. Primeiro porque foram consideradas periferia de Porto Alegre e da capital receberam todas aquelas pessoas que não tinham condições de se estabelecer nos bairros porto-alegrenses, empurradas durante décadas para os arrabaldes e vilas com menos condições de vida. Em segundo lugar, foram (e talvez ainda sejam) marginalizadas pelos capelistas de nossa cidade. Os “trezentocentões”, filhos da fina-flor da sociedade que olham com desdém para as vilas de Viamão.
Próprias pernas
Mas as vilas viamonenses têm passado muito bem, obrigado, caminhando pelas próprias pernas. E valorizando sua história, talvez mais curta, mas também cheia de fatos importantes. O que ninguém mais fala, nem estes políticos cheios de ciúme, é que o Quarto distrito foi tão maltratado no passado que tentou quatro vezes a emancipação. Não lograram êxito, mas criaram uma alternativa: a busca pela auto-suficiência. Buscaram o crescimento de seus núcleos urbanos, investiram em suas regiões e hoje colhem os frutos. E a administração e os políticos capelistas fizeram o quê? Escaldados com a emancipação de Alvorada, na década de 70, não fizeram nenhum investimento estratégico depois da parada 42 em direção à Porto Alegre. Chegaram ao cúmulo de construir um ginásio de esportes em cima de uma sanga, mas não deixaram esta obra escapar do Centro.
Mentalidade
Temos que mudar esta mentalidade, acabar com os preconceitos. Quando produzíamos a Revista Viamão, sempre reservávamos alguns exemplares para a distribuição com formadores de opinião de Porto Alegre. Eu pessoalmente levava os exemplares para as rádios, tevês e jornais de Porto Alegre, para mostrar que Viamão não tinha só notícia ruim. E quando dizíamos que produzíamos a Revista a partir da Santa Isabel, volta e meia alguém brincava com o fato de estarmos tão longe de Viamão e tão perto de Porto Alegre, e provocava a questão da emancipação. E eu sempre retribuía no mesmo tom, com muito bom humor: “não queremos ser vizinhos de Viamão. Queremos ser o filho mais querido!” Que assim seja.
Coluna publicada em 8 de dezembro de 2007.

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