domingo, 11 de maio de 2008

Vinte de Setembro

Nunca usei bombachas. Que eu me lembre nunca. Não. Com certeza, não. Não é o meu estilo. Também não sei fazer aquele cumprimento, aqueles salamaleques do pampa. Infelizmente não é da minha natureza. Mas nem por isso deixo de ser gaúcho. Digamos que eu seja um gaúcho urbano. Mas sempre tivemos contato com as coisas do Rio Grande. Meu pai tinha um sitiozinho no interior, criava umas vaquinhas e tinha alguns cavalos pra gente usar nas férias de verão. Ele adorava aquela vida no interior. Para nós, apesar de gostarmos, infelizmente não sobrou muito tempo para os costumes campeiros. Mas apesar de tudo, respeito e me orgulho de nossa herança farroupilha. Até acompanho os desfiles pela TV!
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Uma coisa que tenho notado há algum tempo é que parece que a epopéia farroupilha se esgotou em termos de ensaios e teses. Parece que já não temos nada a acrescentar. Lembro que na época do sesquicentenário, em 1985, havia uma enxurrada de teorias sobre este ou aquele episódio. Faziam congressos e debates pra defender a índole e os princípios de alguns líderes revolucionários, que ou eram heróis ou eram contrabandistas de gado, preocupados com a própria sorte. Hoje não vemos mais esta profusão de contradições. Nenhuma tentativa de resgatar ou reavaliar algum ponto histórico que tenha ficado para trás. Estamos, a meu ver, passando por uma calmaria intelectual, no quesito Revolução Farroupilha, uma espécie de trégua academicista. Devemos nos preocupar, pois já disseram que toda a unanimidade é burra e não acredito que não haja nada a ser reavaliado ou acrescentado na nossa história.
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E por falar em cultura é impressionante como as tradições e as convicções são flexíveis. Lembram da polêmica do Sambódromo, há alguns anos em Porto Alegre? As comunidades carnavalescas queriam que a passarela do samba, a pista de eventos municipal (que hoje está sendo magnificamente sendo construída na zona norte de Porto Alegre) fosse instalada entre o Parque Marinha do Brasil e o estádio colorado. Até alegavam que seria utilizado por todos os outros segmentos, para as paradas militares e desfiles tradicionalistas de 20 de setembro. Os tradicionalistas, se bem me lembro, engrossaram a oposição, disseram não, e ficaram devendo apoio para as escolas de samba que, sem muitos aliados, foram tocar seus tamborins lá no Porto Seco. Mas não é que agora, para o desfile temático as alegorias foram confeccionadas lá nos barracões do samba? Acho que até já vi aquelas cabeças de índios em algum desfile de carnaval no ano passado. Quem sabe em dois ou três anos não veremos o desfile gaúcho lá na pista de eventos do carnaval. Quem duvidar é louco!
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Pra finalizar quero fazer um pequeno comentário sobre a questão do pedágio. Evito me pronunciar sobre este assunto, pois acho que tudo o que se fala é um pouco oportunista, venha de onde vier, e também porque como sou a favor do pedágio poderia parecer provocação. Sou a favor do pedágio e tenho meus motivos para isso. Sou é contra a maneira que ele nos foi impingido. Acho que foi mal negociado na época de sua implantação. Mas agora isso já ficou pra trás e em cinco ou seis anos já não teremos mais que nos preocupar com este monstro. Até lá é torcer pra não reverterem a decisão judicial.

Coluna publicada em 22 de setembro de 2007.

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