domingo, 11 de maio de 2008

Quando o pouco é mais

Tive o prazer de conhecer pessoalmente Nelson Jungbluth, quando há uns dezesseis anos atrás, tive que acompanhar um cliente do escritório onde trabalhava como estagiário que queria adquirir algumas obras para sua casa de campo, em Gramado. Como o cliente era apaixonado por cavalos, de cara lembramos do Jungbluth, pelas suas famosas séries sobre o pampa, o dia a dia do gaúcho e, naturalmente, seus belos cavalos. Foram três ou quatro tardes que passei no estúdio onde Nelson trabalhava em sua casa, numa ruazinha na subida do Morro Santa Tereza, e apesar de minha condição de assistente no processo todo, fui muito bem tratado. Não conseguimos comover o cliente a adquirir algumas peças (apesar da condição econômica, talvez não tivesse entendido a profundidade do artista e seu acervo), mas apesar disso não posso dizer que aquelas tardes foram improdutivas. Muito pelo contrário, foram muito inspiradoras.
Excepcional ilustrador, Jungbluth começou sua vida profissional como desenhista de quadrinhos e chargista para importantes títulos da década de 40 e 50. Mas foi quando ingressou no mercado publicitário que começou a ficar conhecido, responsável pelos famosos calendários da VARIG. Depois como artista plástico seus belos cavalos, sempre retratados com movimentos tão plasticamente perfeitos, deram a ele status de artista plástico bastante respeitado. Sem falar na maneira com que tratava as cores que eram por demais atraentes.
O mais interessante na carreira de arquiteto é a diversidade de conhecimentos que são necessários para o desenvolvimento da profissão. Precisamos estar sempre atualizados, não só com os aprimoramentos tecnológicos na arte de projetar e construir, mas também saber como as coisas funcionam. E a maneira como repassamos nossas idéias também se torna fundamental, por isso da cumplicidade da comunicação e da publicidade com a arquitetura.
Pois Jungbluth era um mestre da propaganda, com suas ilustrações, não por ter revelado ao mundo alguma expressão conceitual, mas pela sua constante perseguição pela perfeição. Conhecendo seu trabalho compreendi aquela máxima de que menos é mais. Que podemos alcançar um bom resultado com uma solução mais simples, mas com muito trabalho e repertório. Fazer pouco não é fazer o mínimo, é conceber soluções que alcancem resultado que transmita a idéia que pode ser capturada pelo público com facilidade. E isso nos trás outro aspecto que as novas gerações, acostumadas com os avanços da informática, não conseguiu absorver. O computador, apesar de ser uma excelente ferramenta, não pode criar sozinho. E a criação é essencialmente um processo de tentativa e erro. Não adianta achar que o computador vai transformar qualquer um em um grande mestre da computação gráfica. Pode no máximo transformar-nos em exímios e rápidos usuários, mas não mais do que isso.
Por isso, logo que fiquei sabendo da morte de Nelson Jungbluth, no sábado passado, aos 86 anos, senti uma frustração de não ter tido tempo de recomendá-lo às gerações mais novas, àqueles que estão começando, seja qual for a profissão que tenham escolhido. Isso pouco importa. O importante na obra e na vida de Nelson Jungbluth, é perceber que ele fez tudo o que fez, com muito talento e trabalho, mas talvez perseguindo sempre a máxima do “menos é mais”. E pode ter certeza que o resultado não deixou nada a desejar.
Coluna publicada em 12 de abril de 2008.

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