domingo, 11 de maio de 2008

Essas rasteiras que a história nos dá

Alguns historiadores sustentam a tese de que a influência de Rasputin, misto de médico e guru, sobre a família real russa no final do século XIX, foi responsável pela série de mudanças políticas que Rússia viria enfrentar até a Revolução de 1917, quando os bolcheviques assumiram o controle daquela nação. Aí durante anos este monge russo pintou de figura importante nos nossos livros escolares, no capítulo dedicado à Era Contemporânea. Com o passar dos anos, a história, e seus historiadores, puderam notar que na verdade a influência maior era da czarina Alexandra sobre Nicolau, líder do maior império em extensão de então, que com seus devaneios e loucuras na busca de uma cura para o filho doente, cegou o marido para os problemas de um país em ebulição e ansioso por reformas que tirassem o povo de uma vida quase medieval (e isso em pleno 1916, durante a Primeira Grande Guerra).
Esse é só um exemplo de quão fascinante é a história. As inúmeras leituras que se pode fazer sobre um tema, um acontecimento. Marcos históricos podem variar ao sabor das novas descobertas e teorias sempre devem ser bem vindas. Não sou historiador, minha formação é outra, mas até na arquitetura precisamos deste alicerce para reconhecimento da evolução do ser humano e da sociedade.
Há quem diga que a história é contada pelos vencedores. Eu acrescentaria que é contada pelos que detém o poder. E neste raciocínio, ter o poder e não utiliza-lo para reformar a história soa como uma burrice implacável. Exemplos disso tivemos em dois momentos de nossa história: a influencia positivista no início de nossa republica moldou nossos heróis para pintar um belo quadro histórico e depois os “revolucionários” de 1964 adicionaram algumas de suas tintas e estilos para terminar esta obra, que já desbotou, diga-se de passagem. Depois o tempo se encarregou de tornar essas histórias mais ou menos importantes, revelando seus aspectos mais interessantes. Haja vista que um dos grandes sucessos da releitura de nossa historia ser um cara que se firmou debochando da pose histórica de nossos personagens brasileiros. Contar com bom humor a historia pode ajudar a digerir melhor alguns fatos.
E o bom humor talvez nos salve de registros que ficam só no chapisco, dando a impressão que o reboco jamais ficará pronto. Dessa maneira nossas futuras gerações não reconhecerão o real valor de nossa história e a Vila Cecília ficará para a eternidade como a vila da fábrica de móveis que deu origem ao nome do bairro: Santa Cecília, que tinha uma chaminé que restou desta fábrica e que tinha um Zaffari do outro lado da rua. Ou talvez um dia acordemos fascinados com as descobertas arqueológicas de um morador do Cantegril que cavando os alicerces de sua futura casa, em nobre condomínio fechado, encontre os restos mortais de combatentes farroupilhas e entre seus pertences estejam suas carteirinhas de sócios do Cantegril Clube, com o passe para as piscinas vencido.
Nossa história pode ser muito mais rica se soubermos contá-la e recontá-la. Essa é a verdadeira essência de nossas raízes. A micro-história pode montar uma história maior, digna e humana. Mas tem que ser diariamente repensada e desafiada. Senão colocaremos a culpa em algum Rasputin.
Em tempo: alguém está nos devendo a biografia de Padre Caldana, esta figura tão importante para a história viamonense.
Coluna publicada em 15 de dezembro de 2007.

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