domingo, 11 de maio de 2008

Nem perto, nem Passaperto

Não sou noveleiro. Não mesmo! Já faz algum tempo que desisti de acompanhar enredos televisivos, muito por culpa da lubricidade imposta na transposição para as telas domésticas do que dizem ser o comportamento e a cultura de nosso povo. Você sabe, a eterna discussão sobre o ovo e a galinha, ou qual veio primeiro. Além do mais tenho notado que as novelas têm enrolado muito e não saem do lugar quando a fórmula assegura bons índices de audiência. E aí se você assistir um capítulo a cada dez dias vai notar que não perdeu muita coisa, a não ser os clipes sensuais do núcleo feminino de escassos trajes e abundantes próteses de silicone.
Se não sou noveleiro convicto, nestes dias em convalescença, pude acompanhar algumas tramas e me divirto com o deboche à democracia que o cubo mágico, em alta definição, coloca em nossa casa. Em Passaperto, temos um prefeito que navega ao sabor do vento e dos humores de sua comunidade, ora empurrando uma linha férrea pra lá, ora decidindo implantar serviços para a comunidade, que venham atender seus próprios interesses. Tudo pelo bem da comunidade! Até uma CPMF ele inventou. E isso em plena década de trinta do século passado.
Já na Portelinha, a grande polêmica se estabeleceu sobre a instalação de uma fábrica que acabou num plebiscito. Poder para o povo! Com muito pagode e samba do núcleo pobre da novela. Já pensou se a moda pega? Porque novela não serve pra refletir somente os nossos costumes. É uma estrada de duas vias. Mas é tudo faz-de-conta.
Mas duas noticias que acompanhei esta semana me induziram a comparações e considerações sobre a vida que imita a arte, ou vice-versa. A primeira foi uma entrevista do delegado de polícia titular de Charqueadas, que afirmou, nas ondas médias da Rádio Gaúcha, que quase noventa por cento dos casos encaminhados àquele distrito policial eram ocorrências dentro das oito ou nove instituições prisionais daquela cidade, e os mais graves – assassinatos e agressões – em sua totalidade eram realmente de dentro dos presídios. Ou seja, o perigo, o risco de morte, naquela cidade apavora quem está atrás das grades, e neste caso atrás das grades das celas e não das residências. Na Portelinha, quem está dentro da comunidade está seguro. O mundo cruel e violento está lá fora.
A outra notícia também vem da região carbonífera. Vem de Arroio dos Ratos. Lá o prefeito encaminhou ao secretário de segurança do estado, um pedido de construção de um dos novos presídios planejados pelos programas nacionais e estaduais de segurança pública. Diz o prefeito de Arroio dos Ratos que cerca de noventa e cinco por cento dos comerciantes e cem por cento da comunidade, aprovam a construção de um presídio na cidade e acreditam que esta iniciativa pode trazer mais segurança e empregos para o município. Como Passaperto, Arroio dos Ratos quer crescer e progredir, nem que seja com um presídio em seus limites.
Não dá pra comparar a vida real com a ficção. Seria até covardia. O que interessa a todos é seguir o roteiro e assim chegar a um final feliz. Seja em Charqueadas ou Portelinha, Arroio dos Ratos ou Passaperto. Ou ainda mais perto.
Saiu de circulação
Esta semana recebemos a notícia do fim da Revista Santa Isabel, que circulou por quase cinco anos e que seu lançamento em 2003 pode ser considerado (pelo menos eu considero) um marco na cultura do quarto distrito de nossa cidade. Ficamos todos tristes com esta decisão do Alexandre Bruch, mas sabemos das dificuldades para tocar um projeto com tanta qualidade em Viamão. Com certeza vai deixar saudades, mas boa sorte e sucesso ao Alexandre em seus futuros projetos.
Coluna publicada em 19 de janeiro de 2008.

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