domingo, 11 de maio de 2008

Luz, câmera...

Não há quem não goste de cinema. Mesmo quem não vá. Porque você vai concordar comigo: até na TV filme bom é filme que passou no cinema. Esqueça as incontáveis aventuras do cãozinho em busca do seu dono que mudou de cidade, aqueles filmes chatos que a Globo mostrava no sábado à noite, “meu filho, minha vida”. Aquilo é filme produzido pra televisão, os famosos teleplays americanos. Estou falando de filme, gravado em película, 35mm, com ou sem grandes efeitos. Isso sim é filme!
II
Mas vou confessar, ando com pouca paciência pra assistir algum filme na TV. Como a TV aberta é um convite à mediocridade, e a partir das 19 horas as novelas tornaram-se um tanto libidinosas, tenho buscado conforto e segurança nos canais infantis da TV paga. Solução de quem tem filho pequeno, mas também é uma proteção contra o “mundo-cão” de nossas redes televisivas.
III
Quando minha família veio morar em Viamão o cinema da Santa Isabel, o Rian, ainda estava funcionando, e o Radar, aqui no lado da Igreja Matriz, não me recordo, mas acho que também funcionava. Nunca fui a nenhum dos dois, só passávamos na frente, mas lembro que quando o Rian foi transformado em Poko Preço, aquela rede de supermercados que não dava nem sacolinha, eu ficava lá dentro olhando pra grandiosidade do espaço, e imaginava como deveria ser aquela sala de exibição. O tempo passou a sala foi totalmente reformulada e hoje é um grande supermercado. Ninguém acreditaria, hoje, que ali as pessoas iam ver Bruce Lee, à noite e a garotada lotava a matinê pra ver a Pantera Cor de Rosa. Isso ficou no passado. Há pelo menos trinta anos atrás.
IV
Apesar disso sempre gostei de cinema. Já disse isso. Acho que freqüentei todas as boas salas de Porto Alegre. No segundo grau, no Inácio Montanha, matávamos aula pra ir pro Cine Center, no Centro Comercial João Pessoa, antes do advento dos grandes shoppings. Com a turma da faculdade íamos à sessão da meia-noite do ABC, ali na Venâncio, pra depois ficar até amanhecer jogando conversa fora, na frente da casa de algum amigo. O ABC fechou, também, e jogar conversa fora na rua à qualquer hora, pode ser um risco.
V
Hoje em dia meu programa de sábado tem sido ir ao cinema. Retomei este velho hábito, levando meus filhos. Dinheirinho pro ingresso, pra pipoca e o guaraná, e por duas horas nos desligamos do mundo exterior. E isso tudo, bem pertinho de casa, há menos de uma quadra de distância. Não, não me mudei pra capital. Ainda sou morador da Santa Isabel. É que muitos ainda não sabem, mas já temos cinema novamente em Viamão, na esquina da Liberdade com a Walter Jobim. Já está ali há quase quatro anos. Passou por um período meio turbulento, fechou, mas voltou a funcionar pelas mãos do querido Arnaldo Henke, antigo administrador do extinto Rian, que esses dias me confidenciou: que se as coisas ainda não estão ótimas, pelo menos estão progredindo.
VI
Mérito seu, Arnaldo, que soube adequar-se ao público de Viamão, oferecendo pacotes promocionais às escolas e preços condizentes com nossa realidade, sem abrir mão do conforto e da qualidade (no verão além do filme vamos aproveitar o ar-condicionado). Toda a vez que vou ao Cine Santa Isabel, nos sábados, fico contente vendo o público chegando, se acomodando, não sei exatamente quantas pessoas freqüentam o cinema, mas é muito bom ver que a maioria das poltronas não está vazia.
VII
Muitos falam que Viamão não tem isso, não tem aquilo. Que deveríamos ter mais disso, menos daquilo outro. Mas pra pensarmos positivo, pra estimularmos a nossa auto-estima, gostaria de ver as pessoas falando aquilo que nós temos. Temos a Festa Arroz com Leite, que vai ser um grande evento no futuro. Temos um comércio pujante. Temos um povo que tem muita força de vontade, e que por anos emprestou esta força pra fazer crescerem as outras cidades. Temos Itapuã, um dos mais belos cenários de todo o Rio Grande do Sul. E temos uma sala de cinema! Temos “Luz e câmera”, agora falta a ação!
Coluna publicada em 8 de setembro de 2007.

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