terça-feira, 20 de maio de 2008

História Devida

Já havia quase dois meses que o outono, aqui, no Sul do Brasil, se mostrava lindo e perfumado. A luminosidade nesta época é maravilhosa, realçando as cores que no verão se são mais intensas, são menos percebidas pela intensidade do sol a castigar nossa terra. Os cheiros e os gostos também se acentuam, despertando desejos e sensações muitas vezes registradas em nossa infância de descobertas, que afinal, carregamos para sempre. Agora, as noites são mais frias e os dias diminuem aos passinhos para o inverno. Mas em maio o “veranico” nos dá dias mais quentes, como quem deixa um cadinho de calor a deixar saudades do verão.
Naquela tarde, foi assim que cheguei a casa: as roupas que nos protegiam pela manhã voltavam abraçadas à cintura, algumas dentro da pasta, junto aos cadernos e anotações da faculdade.
- Não vais à aula? - perguntou meu pai, cotovelos sobre o balcão, a folhar o jornal, cuidando o pequeno armazém que possuíamos.
- Não. Fico contigo. - respondi.
- Então me serve um café.
Meu pai, aposentado, alternava os dias entre a casa e o pequeno sítio que tínhamos no interior do estado. Meu pai, por toda a nossa existência, trabalhava assim: alguns dias em casa e outros fora, desde os tempos da “rádio-patrulha” até se aposentar como inspetor de polícia. Assim nos acostumamos. E sua presença era sempre sentida, mesmo quando não estava em casa. Quando voltava, nossos corações ficavam em festa, ouvindo suas estórias, contando nossas novidades. Minha mãe aproveitava a sua chegada para dar uma volta ao Centro de Porto Alegre, comprar alguma coisa pra casa, ver as novidades. Minha irmã também na faculdade chegava mais tarde.
Servi o seu café. Duas colheres de açúcar, uma pitada de carinho. Abraçados, contei a ele as novidades do curso. Que tinha provas em seguida, enfim, futilidades que se troca com quem amamos. Dei-lhe um beijo e fui estudar na sala, controlando os sons da casa, como um cão, atento aos sinais. Era sempre assim. Quando ficávamos em casa estávamos alerta para quem precisasse de nós. Fosse o pai, que se incomodava com o movimento no bar, fosse nossa mãe, mais acostumada com o corre-corre, mas também necessitada, às vezes, de auxílio.
De repente um reboliço.
Meu pai entra gritando:
- Duda, a arma!
Pegou o revólver que guardava na cômoda junto à cama e voltou correndo. Na porta que separava nossa casa do armazém deu um tiro, espantando os bandidos que tentavam assaltar-nos.
Atira e cai.
Só então percebo que está ferido. Os vizinhos, ao ouvirem os tiros, correm pra ajudar, colocando-o em nosso carro. Partimos para o hospital tentando manter acessa aquela chama de vida que lhe restava. Não houve o que fazer. Dali em diante, como num pesadelo, tudo pareceu perder o sentido. Voltei pra casa tomada pelos vizinhos zelosos e parentes que moravam perto.
E só penso em acordar.
Acordar deste sonho ruim.
Mas não havia como.
Era 19 de maio de 1988.
Aos 19 anos, numa tarde de outono, perdi meu pai. Meu querido pai. E não há um dia que sua presença não seja sentida, e sua saudade não seja doída.
Naquela tarde morria em mim uma parte que eu jamais soube explicar o que era. Meu pai era o esteio, o porto seguro, o aconchego. Um homem cheio de vida, amigo dos mais próximos, exemplo para a família. Que sentia prazer no que fazia. Com este homem jamais, em 19 anos, tive uma briga. Se não concordávamos em alguma coisa, dávamos de braços, respeitando a cumplicidade maior que pai e filho poderiam ter. Nunca ouvi de seus lábios “eu te amo”, mas jamais precisei também de ouvir, pois não tinha dúvidas de seu amor por nós.
E nós o amávamos. Todos nós. Amávamos aquele homem que adorava a vida simples e campesina, talvez buscando encontrar, dentro de si, o menino que um dia teve que crescer à força e sair de casa, procurando emprego e futuro na cidade grande. E na Grande Porto Alegre, criou seus filhos: eu e minha irmã. E teve a felicidade de vê-los conquistar aquilo que tinha como mais valioso: Educação! Foi esse o seu maior tesouro, a fortuna que nos deixou. Ele e minha mãe nos ensinaram a ter, acima de tudo, liberdade. Num ambiente onde a construção do caráter nunca acaba a mente tem obrigação de evoluir, de se formar, de voar.
Formamos nossas famílias, criamos nossos filhos, mas a mente não pára. Tem algo a dizer, tem uma obra a completar. A obra de um menino, nascido em Itapuã, no interior de Viamão, no interior do Rio Grande do Sul, um dia, sem querer, começou. E não pôde terminar.
Crônica publicada em 11 de agosto de 2007 foi apresentada na Rádio Antena 1 da RTP – Rádio e Televisão de Portugal – e selecionada para fazer parte de uma coletânea publicada em Portugal.

domingo, 11 de maio de 2008

O porão viamonense

A mídia é realmente poderosa. Quando achamos que o caso Isabella ia perder o fôlego já saiu do forno a estória de horror de uma família, resultado de uma relação incestuosa entre o pai e sua filha que ficou vinte e quatro anos presa em um porão, sem poder sair, numa pequena cidade da Áustria (nação que também produziu -não se esqueçam - o maior de todos os tiranos, Adolfo Hitler). E aí tudo é material para os programas sensacionalistas. Desde a alva tez dos pobres indivíduos submetidos a este mundo sem sol, até o comportamento possessivo e insano do pai pela filha-esposa. Prepare-se para novos capítulos, tão logo as aventuras da família Nardoni, que esta semana teve novas emoções, volte a esfriar.
Mais comum do que parece
Conversávamos esta semana, em um almoço, e o Hélio Ortiz lembrou que estas relações incestuosas são mais comuns (ou eram) do que se pode imaginar. Mesmo que seja doentia e perversa esta idéia, que pode nos atormentar e encher de culpa, o Hélio lembrou bem que isso pode não ser apenas crueldade, mas muitas vezes fruto da ignorância e da miserável condição humana. Não é uma tese de defesa, peloamordedeus!, não me interpretem mal, mas uma constatação das distorções da realidade que a mente pode criar.
Denúncia
E por incrível que pareça, há um caso entre nós que precisa ser imediatamente denunciado. Uma relação incestuosa que está acontecendo, onde desta vez, os filhos são os algozes, e mantém a mãe presa em um porão! Aqueles que se tornam sabedores desta situação tentam em vão denunciar estes abusos praticados, mas parece que os filhos desta senhora são muito poderosos e alguns dizem até que têm grande influência sobre os veículos de comunicação. Outros mais conformados acham até que a velhinha gosta da situação e dos constrangimentos que os filhos lhe infligem. Mas a relação é promíscua e temos que dar um basta! Imediatamente!
O porão
O que mais revolta neste nosso caso é que o porão onde se estabelece esta barbárie encontra-se em uma casa muito bonita, cercada de belezas naturais e que qualquer visitante, se não prestar bem a atenção nos seus moradores, se ficar envolvido pela beleza e pelo conforto da moradia não vai escutar os gritos que vem lá de baixo. Sim, porque dizem que às vezes a velhinha ensaia alguma vontade de fugir e voltar a ser soberana. Disseram-me que no último final de semana, a encarcerada ouviu movimentos estranhos, de pessoas no andar de cima e tentou fazer barulho, dar algum sinal de vida, enfim, pedir socorro. Mas foi em vão. A chuva forte e os estragos provocados por um ciclone extra-tropical desviaram a atenção dos convidados.
O pior está no sótão
Infelizmente existem outras barbaridades que cometem neste porão que nem podem ser contadas. Mas quem já esteve nesta “casa dos horrores” afirma que o pior não acontece no porão, mas sim no sótão. Diz que ele está vazio, cheio de teias de aranha. Um lugar frio e desabitado, onde o silêncio chega a apavorar. Já cogitaram em transformar o local em algo habitável, mas desistiram, ninguém se sente estimulado. Mas aí a culpa é somente dos moradores do andar de baixo.
Procura-se
Mudando de assunto. Precisamos urgentemente de caricaturistas! É inadmissível que nesta cidade não exista uma boa mão para retratar nossa miséria política. As piadas escorrem pelo ralo e não são aproveitadas. É o maior crime este desperdício do riso público! Vou tornar oficial este meu pedido ao Dickow e ao senhor Roberto de Roberto, proprietário deste veículo de Comunicação. Senão, sairei eu em busca do traço perdido.
Coluna publicada em 10 de maio de 2008.

Hinos e canções

Semana passada no Programa Identidade Viamonense, na Santa Isabel FM – 91,7 – nos demos conta (eu, o Lilja e o Ney Rodrigues) que Viamão não tem um hino, seja ele oficial ou não. Lembramos também do belo jingle que o Marcelo Binatti fez para a Festa do Arroz com Leite do ano passado que (sabe-se lá o porquê) não tocou, e que este ano já foi aposentada. Fizeram outra que também não está tocando. O fato é que o pessoal da organização da festa não se encantou com a proposta e queriam uma música mais alegre e a versão mais “acelerada” tirou, na minha opinião, todo o encantamento da canção.
Mas isso não vem ao caso. O fato é que todo mundo que ouve esta composição identifica o potencial para se transformar em nosso hino. Já aconteceu antes com outra música que o Binatti compôs para a extinta Revista Santa Isabel, que foi adotada pela nossa comunidade e foi um dos grandes momentos do Baile da Primavera, há cinco anos, quando a Orquestra de Sopros da Santa Isabel, executou com um super-arranjo, que emocionou todos os presentes. Quem sabe não possamos repetir estas emoções agora em 2008, na grande festa que o Lilja está organizando para os 55 anos da Santa Isabel.
A canção do Marcelo está muito bonita, mas talvez tenha que ser calibrada, já que a intenção inicial era de ser um produto comercial, que atraísse nossa gente para a festa, mas com o talento que ele esbanja, não vai ser difícil adaptá-la para ser nosso hino. Depois depende dos nossos líderes municipais se motivarem para que Viamão tenha finalmente seu hino.
Na internet tem um espaço que tem o filme que o Lilja fez com a canção do Marcelo Binatti. Vou transcrever a letra aqui, mas se você quiser conferir o conjunto da obra pode acessar www.youtube.com/watch?v=gppkHT5Bjhs.
Há quem vá reclamar que a composição é deveras rebuscada e diferente do usual, mas só pra lembrar, o nosso hino nacional é um dos que tem a letra mais difícil do mundo e é isso que o faz tão belo. O Binatti foi pelo mesmo caminho e criou uma obra-prima!
Bem vindos casais açorianos
À Setembrina dos Farrapos
Viamontes, Viamara, Ibiamom
Águas Claras, Lagoa dos Patos

Canta velha capital
Boa Vista, farol, Itapuã
Trincheiras, estâncias e lombas
Índio, viajantes... Tarumã

Na canção... Conceição, a matriz
Tradição, histórias vertentes
Nos teus passos, rastros tropeiros
Identidade Viamonense
Maio promete
Esse começinho do mês de maio vai ficando importante para o nosso município. Nossa Festa Arroz com Leite chega a sua segunda edição e já dá sinais de que vai ser a maior festa de Viamão para os próximos anos. Pude visitar o Parque de Exposições do Sindicato Rural já no primeiro dia, e recomendo. É um bom passeio para este final de semana.
Baú do Lilja
O Lilja não tem bem certeza da data, mas acho que já fizemos um ano de coluna no Baú. Resistências e críticas à parte, o Baú é um dos espaços que mais gostamos do DV. Pode ser que daqui a algum tempo tenhamos um livro, fruto das histórias e das imagens que mostramos neste primeiro ano. Depende de o Paulo conseguir reunir todo o material. Te mexe Lilja!
Só pra lembrar
O Programa Identidade Viamonense vai ao ar todos os sábados das 18 às 20 horas, na Rádio Comunitária Santa Isabel – 91,7 FM.
Coluna publicada em 3 de maio de 2008.

Inocentes

Não me manifestei até o momento sobre o caso Isabella Nardoni por dois motivos: o primeiro é que um acontecimento de proporção nacional talvez não devesse ser destrinchado em jornais de circulação local, quando existem tantos assuntos para serem explorados por nossos pequenos espaços semanais. Mas já que outros colegas já desembarcaram neste território, aceito a pecha de “maria-vai-com-as-outras”. O outro motivo é que eu não queria ser responsável por nenhuma declaração que pudesse reforçar injustiças e preconceitos. Por isso agora uso meu espaço para afirmar: Isabella não foi assassinada pelo pai e pela madrasta. Tenho a certeza que foi uma terceira pessoa que praticou aquela monstruosidade. Não tenho dúvida disso. E me valho da condição de pai para defender minhas convicções.
Um pai não cometeria tal atrocidade. Um pai seria incapaz sequer de planejar tão horrendo fim para sua descendência. Os pais estão preparados para enfrentar as adversidades da vida somente para defender sua prole. E isso, não se engane, não é condição imposta pela sociedade ou por princípios morais. Isso é imposição da natureza, que assim garante a perpetuação da espécie.
Eu costumo imaginar a nossa mente como uma grande mesa telefônica, igual àquelas de antigamente, que eram comandadas habilmente pelas telefonistas. Cada ação ou reação depende das ligações e encaixes dos plugues. Se uma dessas conexões é mal encaixada, ou ligada no lugar errado, pode gerar conseqüências danosas ao nosso comportamento. E existe lá na nossa cabeça, um terminalzinho que envia a informação de que temos que agir como pais, como protetores de nossas crias. Só que depois que este comando é enviado ao nosso cérebro, não tem mais como desligá-lo.
Talvez você conheça este comando pela desgastada gíria “a ficha caiu”. E é assim mesmo. Depois que a ficha cai, temos certeza de que o que queremos para nós não tem nada a ver com a gente, mas com nossos filhos. Eles são a verdadeira razão da nossa existência. E é essa convicção (repito!) que me faz afirmar que não foi o pai de Isabella Nardoni que cometeu tamanha violência. Pelo bem de nossos filhos e pela imagem que quero que continue em suas mentes, tenho que acreditar e propagar esta tese.
O que tem me impressionado nesta história toda, também, que vem me atormentando neste dias de grandes coberturas televisivas é que ninguém, em nenhum momento parece ter declarado seu amor pela menina. Puxe pela lembrança. O que as pessoas falam a respeito da pobre Isabella é que ela era um doce de criança, uma “mocinha”, muito educada, atenciosa com o pai, a madrasta e os irmãozinhos. E quando falam da relação de perda, lembram sempre que ele era um tesouro, que o mundo sem ela havia acabado, desmoronado, que o futuro não tem mais sentido. Mas o que se vê é um casal assustado com seu futuro, e uma mãe que parece ter encontrado conforto posando de celebridade.
Nenhuma palavra sobre amor. Sobre amor verdadeiro, maternal, paternal. Aquele amor que temos por alguém que saiu de dentro de nós, que é sangue do nosso sangue. E no fundo, o que a Isabela queria era somente isso: ser amada. Uma criança dividida, que tinha sua condição de filha subornada com quartos cor-de-rosa, brinquedos, finais de semana em festa, com os meio-irmãos, quem sabe, moeda de troca nestas relações doentias deste triângulo pai, mãe e madrasta. Por isso a referência a ela, talvez como um tesouro. Algo que tinha preço, numa sociedade de consumo que determina o valor das coisas. E o que ela queria, talvez fosse algo inegociável: amor.
Coluna publicada em 26 de abril de 2008.

Bairrismo

Não sou do tempo dos homens de terno vermelho. Mas sei que foi uma invenção da CDL de Porto Alegre com forma de constranger os maus pagadores. Se você atrasava suas contas no crediário, poderia receber a visita destas figuras que, pela cor do traje, constrangiam os inadimplentes junto à sua vizinhança. Quem é que gostaria de receber tal visita? Ninguém! Hoje em dia com tantos direitos para o consumidor ninguém se arrisca a colocar o cliente numa saia justas dessas.
Mas sou do tempo que cada loja tinha o seu crediário próprio. Não era essa profusão de cartões de crédito e bandeiras bancárias que oferecem crédito direto ao consumidor. Íamos ao Centro (e estou me referindo ao Centro de Porto Alegre, como todo bom isabelense) e passávamos, com minha mãe, mais tempo no setor de crediário do que propriamente comprando, para responder as intermináveis perguntas do cadastro. Os mais velhos devem lembrar: muitas lojas pediam referências e o melhor era já apresentar os carnês de compras e de preferência em dia.
Acho que foi nessa época que começaram a chamar as vilas de Viamão de “bairros”. A gente chegava à loja e quando dizia que era de Viamão, vinha a pergunta: “Qual a parada?”. Não importava se a sua casa fosse longe demais de uma parada, tinha que relacionar. Assim todas as vilas da Grande Santa Isabel eram da Parada 32. Mas logo em seguida, quando as lojas passaram a entregar para o proponente a ficha de cadastro, para ele próprio preencher, apareceu uma palavra que a gente não estava habituado a usar: bairro. Mas Viamão só tinha vilas, como é que fica?
Há pouco tempo atrás um vereador de nossa cidade decretou, via projeto de lei, que nossas vilas estavam promovidas à categoria de bairro. Só pra aumentar, segundo ele, a auto-estima dos moradores que se sentiam discriminados: quem mora em “vila” é “vileiro”. Nem adianta lembrar que a origem da palavra remonta às conquistas romanas que definiam as casas de campo dos nobres romanos como “villa”. O importante é que Viamão não tem ainda bairros. O novo plano diretor, aprovado no final de 2006, parece que definiu dez grandes divisões territoriais para nossa zona urbana, que iriam determinar os bairros de nossa cidade, mas acho particularmente que não se respeitou a história de cada região. Não dá pra reunir a Grande Santa Isabel e a Grande Cecília num grande bairro. Assim como a São Tomé e a Santo Onofre não podem ser um bairro único. Mas as vilas e pequenas denominações ao redor de uma referência podem ser agrupados num só bairro. Assim poderíamos reunir as Augustas e as vilas próximas num novo bairro. O Santa Isabel, também seria a união das vilas que hoje já se consideram integrantes da Santa Isabel, e assim por diante. A melhor opção seria deixar a cidade se organizar, pela afinidade entre os nossos núcleos urbanos. E aí talvez a coisa funcione. Mas que a prefeitura não tome a responsabilidade para si. Nem os vereadores, senhor presidente! Porque as coisas parecem funcionar melhor quando nossos poderes constituídos não se mechem. Senão as coisas não acontecem mesmo. E nem me falem em Ministério Público!
Santas Cecílias, Batman!
Tomamos a liberdade, eu, o Lilja e o Binatti, de organizarmos um Fórum de Discussão (bonito, não?), para deliberarmos algumas soluções para o grande dilema da Vila Cecília: afinal, a Cecília é santa ou não? E também aproveitamos para tentar resolver o grave problema dos ônibus municipais que insistem em usar o “santa” na frente do Cecília. Já que não conseguimos comover os gerentes das empresas para que consertem os letreiros (é só “Cecília”), vamos iniciar um processo de “beatificação” de todas as linhas de ônibus, e para isso vamos convocar os párocos de todas as igrejas viamonenses. Por isso, de agora em diante a Monte Alegre passa a se chamar São Monte Alegre, o Elza será o Santa Elza, o Fiúza também será santo e até a Brahma, que já era engarrafada, agora também é santificada. Só não resolvemos como chamaremos o Santa Isabel, o São Tomé e o Santo Onofre.
Coluna publicada em 19 de abril de 2008.

Quando o pouco é mais

Tive o prazer de conhecer pessoalmente Nelson Jungbluth, quando há uns dezesseis anos atrás, tive que acompanhar um cliente do escritório onde trabalhava como estagiário que queria adquirir algumas obras para sua casa de campo, em Gramado. Como o cliente era apaixonado por cavalos, de cara lembramos do Jungbluth, pelas suas famosas séries sobre o pampa, o dia a dia do gaúcho e, naturalmente, seus belos cavalos. Foram três ou quatro tardes que passei no estúdio onde Nelson trabalhava em sua casa, numa ruazinha na subida do Morro Santa Tereza, e apesar de minha condição de assistente no processo todo, fui muito bem tratado. Não conseguimos comover o cliente a adquirir algumas peças (apesar da condição econômica, talvez não tivesse entendido a profundidade do artista e seu acervo), mas apesar disso não posso dizer que aquelas tardes foram improdutivas. Muito pelo contrário, foram muito inspiradoras.
Excepcional ilustrador, Jungbluth começou sua vida profissional como desenhista de quadrinhos e chargista para importantes títulos da década de 40 e 50. Mas foi quando ingressou no mercado publicitário que começou a ficar conhecido, responsável pelos famosos calendários da VARIG. Depois como artista plástico seus belos cavalos, sempre retratados com movimentos tão plasticamente perfeitos, deram a ele status de artista plástico bastante respeitado. Sem falar na maneira com que tratava as cores que eram por demais atraentes.
O mais interessante na carreira de arquiteto é a diversidade de conhecimentos que são necessários para o desenvolvimento da profissão. Precisamos estar sempre atualizados, não só com os aprimoramentos tecnológicos na arte de projetar e construir, mas também saber como as coisas funcionam. E a maneira como repassamos nossas idéias também se torna fundamental, por isso da cumplicidade da comunicação e da publicidade com a arquitetura.
Pois Jungbluth era um mestre da propaganda, com suas ilustrações, não por ter revelado ao mundo alguma expressão conceitual, mas pela sua constante perseguição pela perfeição. Conhecendo seu trabalho compreendi aquela máxima de que menos é mais. Que podemos alcançar um bom resultado com uma solução mais simples, mas com muito trabalho e repertório. Fazer pouco não é fazer o mínimo, é conceber soluções que alcancem resultado que transmita a idéia que pode ser capturada pelo público com facilidade. E isso nos trás outro aspecto que as novas gerações, acostumadas com os avanços da informática, não conseguiu absorver. O computador, apesar de ser uma excelente ferramenta, não pode criar sozinho. E a criação é essencialmente um processo de tentativa e erro. Não adianta achar que o computador vai transformar qualquer um em um grande mestre da computação gráfica. Pode no máximo transformar-nos em exímios e rápidos usuários, mas não mais do que isso.
Por isso, logo que fiquei sabendo da morte de Nelson Jungbluth, no sábado passado, aos 86 anos, senti uma frustração de não ter tido tempo de recomendá-lo às gerações mais novas, àqueles que estão começando, seja qual for a profissão que tenham escolhido. Isso pouco importa. O importante na obra e na vida de Nelson Jungbluth, é perceber que ele fez tudo o que fez, com muito talento e trabalho, mas talvez perseguindo sempre a máxima do “menos é mais”. E pode ter certeza que o resultado não deixou nada a desejar.
Coluna publicada em 12 de abril de 2008.

É preciso acreditar

Interessante a repercussão da pesquisa que jornais do Rio de Janeiro realizaram nas favelas cariocas. Perguntados sobre a violência e a repressão policial, a maioria dos moradores afirmou concordar com as ações da polícia, a maneira que esta age e até a imagem do famoso “caveirão”, veículo pesado que mais parece um carro forte para apoio às ações policiais, era aceita pela população. Ou seja, para espanto da elite engajada, sempre a procura de causas sociais para apoiar (indignada com a miséria e a condição do homem comum), na favela tem gente de bem! Tem gente que não é conivente e não apóia traficante. Não vive e não tolera a condição marginalizada que lhe foi imposta pela hipocrisia do estado brasileiro. Infelizmente o preconceito coloca todos os gatos pardos no mesmo saco. E depois tenta encontrar maneiras de mostrar seu “bom-mocismo” para salvar alguns destes gatos.
E não pense você, que aqui é diferente. Se você prestar a atenção nos discursos de alguns formadores de opinião das grandes mídias gaúchas, vai notar o mesmo ar de indignação, mas que não deixa de explorar este mote. Na mídia nanica também. É aquele velho jogo de frases feitas e não se engane, posso estar descambando pro mesmo caminho.
Mas o que quero realmente explorar é a condição e o preconceito que às vezes nos torna blindados ao nosso habitat. Tomamos algumas afirmações como verdadeiras e vamos perpetuando e aumentando a realidade, ou, que seja, tornando-a super-real. Aquela máxima jurídica que diz que “todo mundo é culpado até prova em contrário” nos faz esquecer que devemos acima de tudo acreditar é no contrario: todo mundo é de bem, até prova em contrário. Pare e pense: as pessoas que te rodeiam, teus vizinhos, teus amigos, são pessoas de bem? Então agora aumente seu raio de abrangência. São pessoas de bem que ainda compõem a maioria.
Então não consigo conceber que o “império do mal” esteja nos dominando como querem alguns nos fazer acreditar. E podem ter certeza que não vejo o mundo em tons pastel e não paro pra admirar o por do sol todos os dias. Enxergo o mesmo que você. Moro em ruas cheias de contrastes e vivo rotinas que também me fazem tomar muito cuidado por onde ando. Mas acho que temos que permanecer na mão certa da via. E pode apostar que não estaremos sozinhos.
Curriculum
Não deixa de ser engraçada toda essa preocupação da sociedade americana com o passado nada recomendável de seus políticos, chegando ao ponto de o novo governador de Nova Iorque admitir que traíra a sua esposa, num momento de fraqueza, mas que foi uma coisa, vamos por assim dizer, amadora e que sua esposa já havia dado o troco e que estavam todos quites. Já pensou se a moda pega: ao invés de subirem ao palanque para promessas políticas, nossos políticos resolvessem contar o que fizeram em suas vidas íntimas, uma verdadeira lavação de roupa. Ganharia o que tivera a trajetória mais tranqüila, ou este seria vaiado pela pouca picardia de seu currículo?
Galeto Escoteiro
Pois a turma do Grupo Escoteiro Dionysio Tonial está promovendo amanhã o seu 12º Galeto Escoteiro. Vai ser a partir das 11h30min horas, no Salão de Eventos do Instituto Marista Graças, na RS 040. Ingressos: onze reais para adultos e sete reais para crianças. Vale a pena pelo excelente almoço que essa galera prepara e pelo divertido bingo que rola depois, com muitos brindes, sempre lembrando que a causa é muito justa. Não perca, você pode adquirir os convites na sede dos Escoteiros, junto ao Instituto Marista Graças ou no local, no dia do evento.
Coluna publicada em 5 de abril de 2008.

Poucas e boas

O leitor Ataíde Duarte se manifestou a respeito da coluna de semana passada lembrando que, além da produção de mandioca, Itapuã também se destacava na pesca e tinha um produto muito apreciado que era o bagre salgado (ou defumado). O Ataíde também critica a falta de opções turísticas de Itapuã, que promete muito na questão natural e deixa o turista sem ter o que fazer. Ele reclama ainda que com todo valor histórico da região não exista um museu ou coisa parecida que possa agrupar informações e atrações aos visitantes.
Casa da Farinha
Lembro que em 2006 o Vereador Dédo sugeriu uma emenda ao orçamento municipal com o objetivo de reservar recursos para a criação da Casa da Farinha, tentando preservar esta cultura agrícola e econômica da região, e que pudesse também funcionar como uma espécie de museu. Mas conforme a municipalidade, emendas ao orçamento são inconstitucionais quando criadas por legisladores daqui. Mas quando elas são propostas pelos legisladores de Brasília ou da Assembléia Legislativa aí são festejadas. Vai entender.
Amputação
Mas o Ataíde Duarte não desanima e lembra que a região está engajada no processo de emancipação administrativa e pode ser um dos primeiros novos municípios tão logo a lei federal permita a organização legal de novos processos emancipacionistas. Respeito a vontade de alguns moradores que sonham com a autonomia, não sei qual a opinião de nossas lideranças políticas, mas será que não teremos um novo município se entregando finalmente às garras da região sul de Porto Alegre, abrindo espaço para que as expressões políticas de nossa vizinha cidade possam declarar finalmente sua influência sobre nossa Itapuã?
Essa é boa
Agora quem alfineta é o Binatti. Eu já havia me esquecido, mas o Marcelo dia destes em nosso tradicional cafezinho da Pimpolho lembrou da polêmica do tira-ou-não-tira da Praça da Santa Isabel, quando alguns defendiam a permanência de pelo menos um pedaço do prédio erguido pelo Estado, quando da instalação da Via do Trabalhador, e que acabou sendo retirado e com isso a municipalidade jogou fora uma edificação estratégica no quarto distrito.
Românticos
Pois o Marcelo lembrou que nos discursos da “turma do derruba” alguns apelaram para o lado sentimental, lembrando que tomavam chimarrão, tocavam violão e namoravam na praça e que aquele espaço “é do povo e o prédio tem que sair!”. Dois anos depois e já sem o “monstro”, nenhum daqueles defensores da “praça do povo” jamais foi visto na praça. Velhos demais para namorar? Quem sabe. Talvez mais maduros, suas bexigas não suportariam uma praça sem banheiros.
Pra completar
Festejando a volta da Brigada ao Centro quero dar minha contribuição para a força-tarefa que agora vai reunir esforços para encontrar um local definitivo para a nossa policia militar utilizar, quem sabe, quando vencer este contrato de aluguel. Porque não tentamos um convênio com a Corsan e instalamos a Primeira Companhia embaixo do reservatório do Largo Adonis. Tem espaço suficiente para construirmos um prédio de três andares, num dos pontos mais valorizados e estratégicos de Viamão. Temos que concordar que é um desperdício de espaço, e que hoje só serve para ponto de encontro de quem está debalde no centro de Viamão. Se alguém tem outra sugestão que apresente.
Coluna publicada em 29 de marlço de 2008.

Raízes

O fato já tem uns dois meses, mas a mídia só noticiou esta semana a visita que pesquisadores chineses fizeram à Embrapa de Cerrados, no Distrito Federal, para conhecerem as pesquisas que aquele órgão vem desenvolvendo sobre a mandioca açucarada. Essa variedade da raiz está recebendo melhorias genéticas a fim de tornar seu aproveitamento na obtenção de etanol mais viável. O biocombustível obtido a partir da mandioca açucarada chega a ser trinta por cento mais rentável, por não precisar passar por outros processos. Os chineses hoje já plantam 500 mil hectares da planta genuinamente brasileira para a indústria geradora de energia a partir do etanol e querem agora absorver a tecnologia e as melhorias genéticas para aumentarem sua produção e rendimento.
Esta notícia me animou muito, não pela proporção internacional, mas pela familiaridade municipal. Talvez muitos não saibam, mas a mandioca já foi uma das maiores fontes de renda agrícola. Quando os primeiros colonos se instalaram aqui, talvez alguns dos casais açorianos, eles não puderam se dedicar às culturas que estavam habituados. Nossas formigas eram vorazes e abatiam toda e qualquer produção. Até hoje é assim em algumas regiões de Viamão.
Esses primeiros colonos tiveram que adaptar suas necessidades e viram na experiência indígena a solução: cultivar a mandioca. E a mandioca foi por muitos anos a importante fonte energética de nossa agricultura. Foi por causa dela que prosperou nossa bacia leiteira, servindo de ração para o gado. Ela foi responsável pelo importante porto lacustre de Itapuã, por onde saia o nosso excedente, na forma de farinha e fécula, produzidas nas inúmeras atafonas familiares que existiam em nossa região.
Tínhamos uma indústria, mesmo que de pequena escala que girava ao redor dessa produção. Lembro que meu pai contava algumas estórias sobre a vida rural de Itapuã. Cheguei uma vez a visitar a propriedade rural que meu avô vendera, localizada numa das mais belas regiões de Itapuã, no Morro Pedra Chata, mas a atafona já não existia mais.
Quando eu tinha uns oito anos, ficamos algum tempo sem visitar Itapuã. E isso foi suficiente pra dois tios me pregarem uma peça. Disseram que Itapuã tinha mudado muito. Que haviam encontrado petróleo e que o progresso tinha realmente chagado. Só se falava árabe pelas ruas e que até um aeroporto internacional fora construído para os xeiques voassem direto ao Oriente Médio, sem escalas. Não preciso dizer que fiquei fascinado e depois com cara de bobo, mas vamos dar um desconto. Mas essa história de biocombustível ficou martelando na minha cabeça desde que falaram em mandioca. Temos a terra, conhecemos a cultura, já fomos grandes produtores. Quem sabe não está aí uma alternativa para o futuro da região?
Temos que ficar atentos às pesquisas, nos mantermos informados. Pode não ser a solução a curto prazo, mas Viamão pode encontrar nesse produto uma maneira de fazer parte das soluções energéticas para o futuro do planeta. E se não ficarmos mais ricos pelo menos seremos ecologicamente engajados.
“Quem bebeu água da bica...”
O SBT está promovendo uma série de depoimentos de porto-alegrenses sobre a Semana de Porto Alegre. Hique Gomez, músico que incorpora o maestro Kraunus em Tangos e Tragédias, sobre sua paixão pela cidade, aponta para o Guaíba e diz: “somos quase oitenta por cento água e essa água vem daqui. Temos a cidade dentro de nós”, numa referência à água do Guaíba consumida pelos porto-alegrenses, que explica o amor pela cidade.
Aí me dei conta de que nossa água vem de Canoas ou da Barragem do DMAE, na Lomba do Sabão e me convenci de todo o resto.
Feliz Páscoa!
Coluna publicada em 22 de março de 2008.

Conteúdo

Desde que iniciei a coluna aqui no DV tento cumprir um ritual. Tenho a tarefa de entregar a coluna o mais cedo possível, na sexta-feira, para que os nossos editores não fiquem preocupados com o meu material. É chegar na redação, puxar na caixa de mensagens, diagramar e tá feito, só falta todo o resto do Diário pra fazer. Não quero ser um fardo pros meus amigos, mas de vez em quando perco os prazos. Sempre chego do futebol da quinta-feira, tomo um banho e vou pro editor de texto (expressão dos primórdios da informática!) colocar em Bits e Bytes (olha aí outra!) algumas idéias.
Sempre releio a minha coluna no sábado e logo em seguida começo a pensar na próxima. Aí as idéias começam a correr pela mente (algumas correm tanto que eu não alcanço mais) e essa busca de um novo texto me tortura até a quinta. Não adianta. Não consigo preparar nada antes. Mesmo que consiga algo na segunda ou na terça me sinto impedido de sentar e transferir pro editor. Espero até o prazo se esgotar. Acho que é a prática que trouxe da arquitetura. Nós sempre deixamos nossos projetos para a última hora, nunca está pronto. Por maior que sejam os prazos oferecidos sempre fica tudo pra ser finalizado “em cima do laço”. E isso é torturante.
E quando as idéias não vêm? E quando são muitas idéias? E quando são idéias enormes que não cabem num espaço sabatinal? Porque você há de concordar: não dá pra continuar um assunto na próxima semana. Fica morno e insosso demais. Ninguém tem a obrigação de acompanhar o colunista semanalmente e esperar que ele desenrole seus argumentos, feito episódios das matinês dos cinemas de antigamente. Tem que ser na bucha. Acertar na “cabeça e no primeiro ao quinto”!
Na coluna inaugural saí escrevendo e não me preocupei com o tamanho da coluna. Fiquei em casa pensando: será que vai caber? Será que vai sobrar espaço? Mas com o tempo a gente vai se acostumando com o espaço oferecido. Configurei a página do Word para ter o espaço e o tamanho de letra que o pessoal usa aqui no jornal e tem dado certo. E contorno vez por outra a falta de assunto com amenidades, como esta. Lá se foram dois terços da coluna e até aqui tudo bem. Mas agora esse cartucho já está detonado. Vamos ter que inventar outras desculpas pra falta de idéias.
Chororô
Não adianta, sempre que vejo uma apresentação da gurizadinha da Pimpolho eu me emociono. Sei lá, acho que é porque o Dudu já fez parte da escolinha e cantava também, mas como diz a minha esposa, me derramo em lágrimas sempre. Não foi diferente no último sábado, lá em Porto Alegre. E foi lindo. Às vezes não dá pra acreditar que um projeto tão bonito não consiga patrocinadores entre nossos empresários viamonenses. mas isso não é um problema só do Tio Marcelo. É um problema pra muita gente que trabalha com música, teatro, dança, literatura, enfim, quem quer fazer cultura em Viamão. E não conseguimos estruturar nada neste sentido. Nem os canais oficiais de patrocínio funcionam por aqui. Falta de vontade política? Não sei.
Mas se deixarmos a questão política de lado, porque nossos empresários não apóiam nossas iniciativas culturais? Segundo um conhecido empresário de Viamão o problema está no excesso de iniciativas ruins e que viraram fonte de renda de falsos “produtores culturais” que transformaram o ato de auxiliar a cultura em achacação! Então é aí que deve entrar o poder público municipal: se não tem verba para apoiar algumas iniciativas, faça o controle e credencie as boas iniciativas para que elas possam receber a ajuda do empresariado local em seus projetos. Criem um selo de qualidade, montem de forma conjunta os projetos para captação de recursos. O que não dá é pra fazer cultura de qualidade contando moedinhas.
Coluna publicada em 15 de março de 2007.

Na tampinha

Deve estar perto de completar uma década a decisão da sociedade civil organizada de acabar com os anúncios de cigarro nos meios de comunicação. Hoje publicidade de produtos da indústria do tabaco, acredito que só dentro dos estabelecimentos comerciais que vendem cigarros, e ainda assim discretamente. Afirmam os entendidos que é pra não incentivar as pessoas a iniciarem no vício e não estimular os que ainda resistem no hábito. Mas algumas pesquisas apontam que o vício do cigarro não reduziu tanto assim e que agora as mulheres é que compõem a maior parte do exército de fumantes no país. Fazer o quê.
Lendo artigos sobre o fumo, lembrei dos grandes comerciais que foram banidos de nosso dia a dia e que as empresas fumageiras produziam. Eram comerciais caríssimos e, conseqüentemente, belíssimos. Altos investimentos que só mesmo as milionárias companhias poderiam bancar. Mas os entendidos diziam que aqueles carrões, barcos, modelos estonteantes e roteiros de aventuras, iludiam o consumidor que fumava com uma falsa sensação de poder e sucesso, e isso influenciava também as crianças, induzindo-as às experiências com o fumo. Adoraria pilotar uma Ferrari, mas duvido que o proprietário deste esse ícone do automobilismo mundial permitisse que alguém deixasse seu brinquedo com cheiro de cigarro.
Cresci num ambiente onde tudo poderia me transformar num adulto fumante. Além dos comerciais de tevê que poderiam me influenciar, meu pai fumava, minha mãe fumava, minha irmã também fumava, muitos amigos fumavam, enfim. E tínhamos em casa uma quantidade enorme de cigarros, afinal éramos comerciantes. Tinha acesso às mais variadas marcas, dos sem filtro, os mata-ratos, até os “fliptop”, aquelas caixinhas bonitas que segundo os fumantes, eram péssimas pra guardar no bolso. Mas nunca fumei. Jamais coloquei um cigarro na boca, nem de brincadeira, ou pra experimentar – a famosa “pitadinha”. Não fui influenciado pelo meio, pela publicidade, pela família ou pelo grupo social. Escapei do mal que afligia o sistema nacional de saúde.
Agora, enquanto nosso país se debate por causa da tragédia diária do trânsito, que se discute se é possível reverter esse quadro avassalador de mortes, de pessoas tendo suas vidas ceifadas em números comparáveis com guerras, adivinhem quem são os maiores anunciantes nas mídias de cobertura nacional? A indústria cervejeira. Grandes produções, boazudas, “zecas pilequinhos”, bom humor, gente feliz, tudo pra criar a mesma sensação que os comerciais banidos dos vendedores de cigarro prometiam: uma vida mais “legal”!
Enquanto isso, nossos jovens se matam nas estradas, com garrafas e latinhas compondo o quadro horripilante que nossos telejornais nos mostram diariamente. Já notou que muitas vezes a chamada para o próximo bloco de terror é minimizada exatamente pela peça publicitária da bebida preferida do brasileiro. E ninguém acha isso um absurdo! Ninguém reclama, nossa sociedade faz passeatas pelo fim da violência no trânsito, cria ONG’s, pinta borboletas no asfalto, pede pros jovens beberem menos, não misturar bebida com direção, mas ninguém tem coragem de dizer: Não beba! Pare de beber! Isso ninguém faz, porque beber é um hábito social tolerado. Perpetuado de pai para filho. Incentivado no churrasquinho de domingo, na reunião de família. Enquanto isso nossos jovens e nossa indústria cervejeira batem recordes de consumo e produção. E a sociedade assiste tudo calada, condescendente. Pelo jeito não mudaremos esta realidade tão cedo. No final de tudo fica uma pergunta: alguém tem duas tampinhas da Carol pra trocar?
Xandão
Foi pouco tempo de convívio, algo em torno de seis meses, mas foi o bastante para conhecer os planos e projetos que o Alexandre Meira, o Xandão estava traçando para o seu futuro e da Volta da Figueira, a supercampeã do carnaval de Viamão. A volta da Figueira ao carnaval tem muito do trabalho do Xandão que junto com o Vanderlei, o Pedrinho e o Leandrinho, apresentaram um belo espetáculo no retorno à avenida e projetávamos um excelente desfile para 2009. Nas várias vezes que conversamos sobre a realidade do carnaval, vi no presidente da Figueira a capacidade de mudar esta situação. Volta e meia conversamos com alguns presidentes de outras entidades do carnaval e percebo certa resistência às idéias novas que possam fazer nosso carnaval crescer. Com o Xandão era diferente. Estava aberto à modernidade e enxergava na Volta da Figueira a porta de entrada para um novo jeito de pensar carnaval em Viamão.
Por isso nos foi tão dolorida a notícia de sua morte. Xandão tinha uma imensa vontade de fazer a diferença pelo futuro de Viamão, e seus amigos não deixarão que seu sonho acabe com seu desaparecimento. Vamos continuar lutando para que nossa condição seja melhor no futuro e perdemos um grande lutador. Não perdeu só a família. Ficou órfã também a cultura viamonense. Fica com Deus, amigo.
Coluna publicada em o de março de 2008.

Venceremos?

Tem sido comum, através dos últimos anos, que as administrações públicas usem slogans para definir seus mandatos. São frases positivas, que quase sempre refletem a boa vontade da tendência e norteiam o pensamento daqueles que irão comandar os cofres públicos, transformando-os em ações sociais e políticas. É a contribuição da publicidade à classe política, coisa de marqueteiros, e algumas até soam muito bem.
Agora, nada se compara ao slogan de Uruguaiana. São duas palavras: “Uruguaiana Vencerá!”, só isso. E nada mais precisa ser dito. Onde outras cidades fazem frases de efeito, destacando o lado social de sua administração, enaltecendo uma cultura paternalista de onipresença da máquina pública, Uruguaiana deu um recado sincero: não estamos nem aí pro resto, “venceremos” e ponto final. E esta filosofia tem mostrado resultados bem animadores.
Este final de semana, a cidade da fronteira está organizando seu carnaval fora de época e, pasmem, já é considerado o terceiro em importância no país, atrás só do Rio e de São Paulo. E não são eles que dizem isso. Quem afirma são os setoristas de carnaval do centro do país que têm visitado Uruguaiana para conferir os preparativos e os desfiles. E não é só no carnaval. Uruguaiana mostrou uma capacidade enorme de reverter a situação que se apresentava para a região no final do século passado. Viajei com freqüência pelo interior do estado nos anos 90 e muitas cidades da região da fronteira estavam em situação falimentar, muito por culpa da condição de pólos agrícolas que dependiam das oscilações do mercado. Se a soja ia bem, até o sapateiro ia bem. Se a pecuária entrava em declínio, nem o vendedor de pipoca escapava. Era o alto preço da monocultura. Hoje, cidades como Uruguaiana experimentam um reaquecimento da economia em função de sua matriz econômica voltada mais para a exploração de novas modalidades e para os serviços atrelados à estas novas iniciativas do que na dependência dos modelos ultrapassados do mercado agro-pastoril.
Uruguaiana soube fazer o dever de casa, aproveitou os bons ventos do aquecimento econômico nacional e hoje pode se dar ao luxo de trazer as maiores personalidades do carnaval brasileiro. E uma observação: seus hotéis estarão lotados neste final de semana.
No fundo o que registro aqui é uma enorme inveja, claro que no bom sentido. Como eu invejo esta postura uruguaianense, tão positiva, tão afirmativa. É disso que nós falamos quando pregamos o Viamonismo que, como diz um grande amigo, não pode ser confundido com o Capelismo, pois se o primeiro prega que Viamão seja pensado como o centro do universo (megalomania dele), o segundo defende que Viamão é o umbigo do mundo.
E já que estamos entrando em ano de rali eleitoral, fica uma sugestão aos nossos pretendentes aos postos políticos: saiam do lugar comum, do formulismo marqueteiro, banalizável. Foquem suas campanhas em mensagens positivas para nossa cidade. Exaltem nossa capacidade e nossas potencialidades. Façam a diferença.
Pole position
Se confirmarem a decisão de levar o carnaval de Viamão para o Autódromo de Tarumã, já possuímos a fórmula para a ordem dos desfiles. A escola que fizer a volta mais rápida com seu carro alegórico larga na frente. E se chover todas têm que desfilar com pneus de chuva.
Coluna publicada em 1 de março de 2008.

Ainda o carnaval

Muitos acreditam que agora, passado o carnaval também em nosso município, o assunto deve estar esgotado. Tremendo engano. Teríamos ainda que fazer um rescaldo do desfile do último Sábado, na Avenida Liberdade, e acho os organismos envolvidos (ou seja, a Prefeitura Municipal e as Escolas de Samba), deveriam nos apresentar um balanço do que foi a nossa festa popular. É a hora de entendimento, de cooperação, de projetos para 2009. O que não dá é pra esperar até o fim do ano.
Proporção
Um fato que ficou demonstrado é que o carnaval de Viamão, se minimamente organizado e profissionalizado, nos próximos anos, pode tomar uma proporção metropolitana. O que vimos na avenida foi uma forte comunidade carnavalesca tentando dar o seu recado. As escolas passaram com muita força e a comunidade respondeu à altura. Acho até que muitos dos espectadores foram para a avenida, empolgados com a estrutura montada no ano passado, que tinha arquibancadas e camarotes, que deram um aspecto mais verticalizado à passarela e contribuiu com as apresentações em 2007. Este ano, muitas pessoas nas arquibancadas se queixavam que não conseguiam apreciar os desfiles, e muita gente ficou apertada atrás das estruturas que separavam o público da avenida. Motivo: foi gente saindo pelo ladrão!
Só pra comparar
No ano em que uma pesquisa avaliou que menos de cinqüenta por cento dos brasileiros gosta de carnaval, e muito menos ainda, vai para a avenida ver os desfiles, quase 40 mil viamonenses passaram pela Avenida Liberdade no Sábado. Só pra comparar, Porto Alegre tem em torno de um milhão e quatrocentos mil habitantes. Se tivéssemos no mesmo dia, duas decisões de campeonato, uma em cada grande estádio, Porto Alegre colocaria em torno de cento e trinta mil torcedores no Beira-Rio e no Olímpico, ou seja, quase dez por cento da população. E ainda assim, muitas das posições nas arquibancadas seriam ocupadas por torcedores de outras cidades e muitos viriam da Grande Porto Alegre. Aí num universo de quase cinco milhões de moradores esta proporção cairia para a casa dos três por cento.
Festa Popular
Acreditem ou não, se passaram pela Liberdade quase quarenta mil pessoas, em relação à nossa população que é de duzentos e sessenta e cinco mil habitantes, nossa proporção beira os quinze por cento. O carnaval de Viamão, proporcionalmente, movimenta para a cidade mais do que o futebol, que ganha disparado na preferência nacional, para nossa vizinha capital, e ainda assim se tivermos um dia de dupla decisão.
Conclusão lógica
Isto posto, só resta um pensamento: é burrice não investirmos profissionalmente no nosso carnaval. É inadmissível que o maior agente cultural, talvez o único que leve o nome de nossa cidade para outras regiões. Que tem quase duas horas de projeção estadual pelas lentes das redes de tevê, não tenha o apoio minimamente aceitável para fazer seu carnaval. É economicamente inaceitável que não tenhamos uma cadeia produtiva que incentive o carnaval e nossas escolas de samba. Apoiar o carnaval é incentivar o comércio local, que vende tecidos, artigos para fantasias, artigos para alegorias, metal e madeira para os carros alegóricos, alimentação para os integrantes e o publico espectador, incremento de viagens no sistema de transporte, seja público ou privado, enfim, dá pra aquecer nossa economia local. Temos demanda para isso, só precisamos pensar com mais seriedade o carnaval. É um produto que pode ser bem explorado se for tratado de forma profissional. Agora só precisamos saber quem vai liderar este movimento.
Coluna publicada em 23 de fevereiro de 2008.

Televisivas

Devo confessar que ando com saudades da TV Guaíba, aquela do canal dois. Não propriamente dessa que desmoronou e andou de pernas bambas até ser comprada pela Rede Record. Muitos lembram da Guaíba pelas incontáveis reprises de filmes antigos (O Maior Espetáculo da Terra, por exemplo, devo ter assistido mais de cinqüenta vezes), mas também temos que reconhecer a heróica resistência às grandes redes nacionais, papel que a TV Pampa não soube desempenhar, aliando-se aos escombros do que um dia foi a extinta TV Manchete.
Você pode não acreditar, mas a Guaíba que esperneou antes de ser vendida tinha programação de qualidade e infelizmente ficamos engessados, agora, no rali da audiência, com todos copiando todos, com muita apelação e conteúdo de gosto duvidoso.
Balançadinha
Um dos fatos que me deixaram nostálgico foi a mudança que a Record fez no seu programa do horário de almoço, o Balanço Geral. Mandaram embora o Reche, que particularmente eu achava fraco, apesar de reconhecer sua qualidade como jornalista, com um texto invejável, e trouxeram um clone do Datena, aquele repórter mais interessado em gritar e achar tudo um absurdo do que propriamente dar a notícia. E junto veio uma cambada de jornalistas do centro do país. Vamos ver no que vai dar. Mas ainda assim sinto saudade das reprises de John Wayne e El Dorado.
TV Viamonense
Falando em televisão, convido o leitor que tem acesso à internet a conhecer duas iniciativas muito interessantes: Televia e Viamão TV. A Televia (www.televia.tv) foi criada pelo Sílvio Monteiro e apresenta algumas matérias bacanas sobre nossa cidade. Já a Viamão TV (www.viamao.tv) é um projeto que o Kadú Schwartzhaupt vem desenvolvendo no canal 6 da NET, transmitindo para Porto alegre e Região Metropolitana, um pouco da nossa terrinha. Por enquanto ele está entrevistando algumas personalidades locais, mas tenho certeza que logo vai ampliar seu espaço e vai colocar mais conteúdo viamonense na grande mídia. Quem não tem acesso à NET pode conferir as entrevistas pela web, acessando o Youtube (www.youtube.com) e pesquisando “programa do kadu”.
Mundo pequeno
Acompanho o trabalho do Kadú já há algum tempo, mas não sabia que já nos conhecíamos desde o século passado. Explico: conversando descobrimos que estudávamos na mesma escola e na mesma série e ainda por cima, íamos juntos de carona com o “Tio Paulo”, um irmão de minha mãe que morava conosco e que ficava encarregado de, vez por outra, nos levar para a escola lá no distante ano de 1978. Só que naquela época o Kadú era o Paulo Ricardo. Que mundo pequeno! Um grande abraço meu amigo e sucesso sempre!
Boa notícia
Apesar de ser período de férias, algumas boas notícias mostram que o pessoal está trabalhando duro. Fiquei sabendo pelo Daniel Jaeger e depois aproveitei para fazer alguns contatos e atualizar-me sobre os fatos, mas o certo é que a nova liga de futebol amador está dando as caras por aí. A turma já finalizou a redação do estatuto e está mandando pro Registro Civil. As coisas estão acontecendo...
O que vem por aí...
Por enquanto são só especulações, mas corre por aí que este ano teremos dois fortes escândalos políticos em nossa cidade, e quem vai pagar o pato é o pobre do cidadão viamonense. Mas por enquanto são só especulações e logo teremos mais informações para o amigo leitor. Estamos de olho...
Coluna publicada em 16 de fevereiro de 2008

Idéias em blocos

Nos dois últimos anos tive o privilégio de poder acompanhar, ao vivo e a cores, o desfile da Vila Isabel, direto do Porto Seco. Com credencial para acompanhar a escola em sua passagem pela passarela do samba, assistí ao desfile do ângulo de quem está trabalhando pela escola, ao lado da pista, e sob aquele ângulo, podemos ver os erros e acertos sob um ponto de vista que a televisão não mostra, nem com aquela câmera que acompanha os foliões desde o solo. Podem ter certeza, as imagens geradas pelas emissoras distorcem a realidade. Só estando lá para poder perceber como funciona e no que está se transformando este espetáculo. Acho que a equipe do DV que desfilou pôde notar esse novo conceito. E isso é também positivo porque acaba derrubando alguns preconceitos que ainda restam contra o nosso carnaval.
Pela telinha
Este ano fiquei em casa. Ainda não estou cem por cento recuperado e passei a noite dos desfiles um tanto sonolento. Mas preparado para os minutos da Vila na avenida. Pela manhã saí pela Santa Isabel à cata de amigos, que como eu, sentem-se entusiasmados pelo carnaval e consequentemente pela Vila Isabel. E muitos disseram a mesma coisa: a Vila não empolgou. Alguma coisa deixou a desejar. E a escola fez um carnaval um pouco morno. Como disse depois ao meu amigo Daniel Hilário, da Comissão Carnavalesca da Unidos de Vila Isabel, o público pode não ser um termômetro confiável, mas o júri, por mais que tenha que fazer uma análise técnica, também é formado por pessoas que levam em conta o seu gosto pessoal. E aí pode estar explicada a posição alcançada pela Vila.
Ficou pra 2009
Tenho muitos amigos na nossa escola de samba. Vizinhos, contemporâneos dos tempos do ensino primário, das festas da adolescência, pessoas com quem a gente vai se relacionando com o tempo. Parabenizo a todos pelo esforço e dedicação e pelo belo carnaval que apresentaram, mas infelizmente fica pra 2009 o tão sonhado título. E como diz o querido Aryzinho: “Vamos trabalhar, trabalhar, trabalhar...”. Mas que seja logo.
Pelos salões
A propósito da série sobre o carnaval que o “Baú do Paulo Lilja” trás este mês, me dei conta de que os bailes de carnaval em nosso município estão com os dias contados. Tirando a turma da terceira idade, que vêm freqüentando com muita disposição alguns bailes vespertinos, não temos notícia das movimentações sociais de fevereiro. Sei unicamente do caso da SOGISI, que mantém seu tradicional baile infantil. Essa situação reforça uma pesquisa divulgada agora, antes do carnaval, que diz que o brasileiro em sua maioria não gosta do carnaval (menos de cinqüenta por cento da população), e muitos dos que disseram gostar, estavam se referindo ao espetáculo transmitido pela TV. Passei em frente à SOGISI, na Terça-feira Gorda e lá de dentro vinha um ruidoso “funk pancadão”. Aí sou obrigado a reforçar o coro: pede pra sair!
Apareceu a dona da foto
Esta semana o Paulo Lilja recebeu a informação que precisávamos para a foto da semana passada, do Baú. A menina da foto é Helena Carvalho, filha de Itamar Carvalho, antigo comerciante do centro de Viamão e que manteve durante anos o Armazém Carvalho. Dona Helena foi Rainha do Carnaval de 1958, do Clube dos Casados e cedeu outras fotos de seu arquivo pessoal que serão digitalizadas e em breve vão ajudar a contar um pouco da história fotográfica de nossa cidade.
Coluna publicada em 9 de fevereiro de 2008.

Verdinhos

Já conhecia a teoria de uma nova Era Glacial em nosso planeta, apresentada pelo professor Humberto Orsi, de Gravataí, no Caderno Meio Ambiente, do sábado passado. Já li uns três ou quatro artigos de especialistas sobre a idéia e sinceramente concordo com quase tudo. Da conspiração pseudo-ambientalista de primeiro-mundistas globetrotters, buscando fundos para campanhas “sócio-educativas”, até os estudos climatológicos de pesquisadores não financiados pelo status quo, por não engrossarem as fileiras do termocaos. Você deve lembrar da polêmica da floresta amazônica. Durante anos se dizia que a região amazônica era responsável pelas trocas de oxigênio e dióxido de carbono do mundo e isso justificava o não desmatamento. Nada justifica o desmatamento mas depois que calibraram as pesquisas, concluímos que a grande floresta tropical é responsável pela refrigeração mundial, ou seja temos ali o maior “ar condicionado” natural do mundo, e sua importância está em organizar as entradas de massas polares nos hemisférios norte e sul. E assim é a vida, a cada dia a ciência evolui e descobre novas formas de entender o planeta, mas a corrente do aquecimento global se municiou com dados muito recentes. Esqueceram que somos passageiros nesta nave de magma endurecido e que a menina Terra já pulou muitos carnavais.
Quando mudamos para Viamão em setenta e seis, chegamos à Aparecida em pleno crescimento da área urbana, na segunda leva de novos moradores, muito em função do êxodo rural, que forçava as populações mais pobres para as periferias. Minha mãe havia chegado à Porto Alegre pouco mais de dez anos antes, para trabalhar de balconista em lojas do Partenon e ela e meu pai, depois, resolveram criar os filhos aqui em Viamão, mantendo-nos financeiramente com um pequeno armazém, que tinha de tudo, como todos os outros daquela época. Por sinal, se era Carnaval, abastecíamos nossos clientes e seus filhos com máscaras e fantasias práticas e com algum material de artesanato. Nos meses de inverno, chapéus de palha e guloseimas alusivas às Festas Juninas. No Natal, muita sidra e espumantes. Tínhamos de quase tudo. A maioria dos armazéns da região era assim. Mas isso não vem ao caso.
Lembro também que lá da frente da nossa casa, na Walter Jobim, tínhamos uma visão privilegiada do Quarto Distrito. De lá vimos nossa região crescer e naquela época, lembro bem, a nossa Grande Santa Isabel se mostrava vermelha e poeirenta. Poeirenta porque nossas ruas eram de chão batido (muitas ainda são), mas também era avermelhada e pelada, culpa do avanço suburbano sobre nossas matas e sangas. Limpava-se o lote que mostrava a cor da terra, antes que o concreto e a madeira decorassem novamente paisagem. Quem hoje circula pelas nossas ruas vai notar que este cenário já mudou bastante. Depois de consolidadas, as nossas quadras já têm um outro colorido, resultado da arborização de alguns lotes e das matas que timidamente reconquistam seu espaço.
Certa vez, numa reunião com “verdinhos” (é como carinhosamente chamamos nossos amigos ambientalistas), resolvi dar minha opinião sobre a destruição do planeta e lasquei: “não importa o que fizemos ou faremos no futuro, a natureza não está nem aí pra raça humana e no final sempre vence!”. Não preciso dizer que quase apanhei. Foi arriscado, mas pelo menos defendi meu ponto de vista. E quando quero dizer “sempre ganha” não estou dizendo que a natureza, o meio ambiente vai dar o troco. Como disse o Professor Orsi, semana passada, não somos parte do processo. Nosso único compromisso é com a nossa espécie, no sentido de que estamos vivendo uma simples “era” em nosso planeta. Temos compromisso apenas com o nosso tempo. Assim como os dinossauros, já estamos com nosso contrato de locação quase vencido. A diferença é que, ao contrário dos dinossauros, temos consciência disto.
Coluna publicada em 2 de fevereiro de 2008.

Ano eleitoral

Uma das principais pautas dos nossos telejornais tem sido a cobertura da corrida à presidência da potência norte-americana. E cheguei à conclusão de que a Estatística foi inventada pelos americanos com um único e exclusivo propósito: justificar o sistema eleitoral bicentenário deles. Não se esforce para entender o modelo, é perda de tempo. Mas pergunte a qualquer estatístico e ele vai justificar o formulismo. Para eles, estatísticos e estado-unidenses, isso é muito natural. Até porque eles (agora os norte-americanos) essa estória de eleição é completamente irrelevante, ainda mais que o voto é facultativo. Mas continuemos espiando-os, aqui dos trópicos meridionais.
Voto Facultativo
E por falar em voto facultativo, me lembrei de uma palestra que o deputado constituinte e ex-secretário de estado, Roberto Ponte, apresentou em um encontro do CREA, alguns anos atrás em São Miguel das Missões. Dizia o deputado que as pessoas reclamam que no Brasil o voto é obrigatório, o que ele discordava. Para ele, o voto no Brasil, depois da nova Constituição de 1988, era mais do que facultativo, era um direito da cidadania, e argumentava: o cidadão vota num dia que ele não tem nenhum outro compromisso, só votar e depois aproveitar o resto do dia. Se não quisesse votar, poderia ir até a sua seção eleitoral e anular seu voto, ou votar em branco, logo, votar não era obrigatório. Se ainda assim não quisesse votar e, por exemplo, resolvesse viajar para aproveitar o dia que o país reservara para que ele exercesse o seu direito à cidadania, poderia ir até uma seção neste outro município (ou qualquer outro no caminho) e justificar sua ausência no processo eleitoral. E se isso não fosse suficiente, poderia nos dias subseqüentes, deslocar-se até um Cartório Eleitoral e, também, justificar sua falta. E se ainda não fosse isso o bastante, poderia em qualquer momento, antes da próxima data que o Tribunal Eleitoral reservasse para outra eleição, pagar uma pequena multa (mais barata que uma passagem de ônibus) e livrar-se de qualquer problema com a Justiça. Em resumo, o brasileiro reclama de barriga cheia!
Beijinho Doce...
Democratas e peessedebistas estão novamente em lua-de-mel. Parece que a paz voltou ao Palácio Piratini, com a trégua entre a Governadora Yeda e o seu vice, Paulo Feijó, com direito até às fotos no aperto de mãos. Alguns comentaristas da capital até festejaram a troca de beijos entre os dois, sepultando qualquer magoa que, garantem eles, ficou no passado. Aviso aos navegantes: até Judas beijou Cristo.
Breve num cinema perto de você
Amigos atentos e leitores vorazes de tudo que se escreve em nosso município pedem e eu atendo prontamente, abrindo espaço para este serviço de utilidade pública: a única sala de cinema de Viamão não está fechada, ao contrário do que algumas pessoas têm comentado. E o mais engraçado é que estamos sempre “propagandeando”, sem interesse comercial nenhum (o próprio DV informa todos os dias os horários e os filmes em cartaz no Cine Santa Isabel) e as pessoas nos ligam pra dizer: “que pena... fechou de novo o cinema...”. Pois bem, não fechou e a sala é uma excelente opção para esses dias de verão, principalmente nos finais de semana, de poucas atrações urbanas de nossa cidade. Aproveite. E um abraço pra turma do Arnaldo Henke.
Coluna publicada em 26 de janeiro de 2008.

Nem perto, nem Passaperto

Não sou noveleiro. Não mesmo! Já faz algum tempo que desisti de acompanhar enredos televisivos, muito por culpa da lubricidade imposta na transposição para as telas domésticas do que dizem ser o comportamento e a cultura de nosso povo. Você sabe, a eterna discussão sobre o ovo e a galinha, ou qual veio primeiro. Além do mais tenho notado que as novelas têm enrolado muito e não saem do lugar quando a fórmula assegura bons índices de audiência. E aí se você assistir um capítulo a cada dez dias vai notar que não perdeu muita coisa, a não ser os clipes sensuais do núcleo feminino de escassos trajes e abundantes próteses de silicone.
Se não sou noveleiro convicto, nestes dias em convalescença, pude acompanhar algumas tramas e me divirto com o deboche à democracia que o cubo mágico, em alta definição, coloca em nossa casa. Em Passaperto, temos um prefeito que navega ao sabor do vento e dos humores de sua comunidade, ora empurrando uma linha férrea pra lá, ora decidindo implantar serviços para a comunidade, que venham atender seus próprios interesses. Tudo pelo bem da comunidade! Até uma CPMF ele inventou. E isso em plena década de trinta do século passado.
Já na Portelinha, a grande polêmica se estabeleceu sobre a instalação de uma fábrica que acabou num plebiscito. Poder para o povo! Com muito pagode e samba do núcleo pobre da novela. Já pensou se a moda pega? Porque novela não serve pra refletir somente os nossos costumes. É uma estrada de duas vias. Mas é tudo faz-de-conta.
Mas duas noticias que acompanhei esta semana me induziram a comparações e considerações sobre a vida que imita a arte, ou vice-versa. A primeira foi uma entrevista do delegado de polícia titular de Charqueadas, que afirmou, nas ondas médias da Rádio Gaúcha, que quase noventa por cento dos casos encaminhados àquele distrito policial eram ocorrências dentro das oito ou nove instituições prisionais daquela cidade, e os mais graves – assassinatos e agressões – em sua totalidade eram realmente de dentro dos presídios. Ou seja, o perigo, o risco de morte, naquela cidade apavora quem está atrás das grades, e neste caso atrás das grades das celas e não das residências. Na Portelinha, quem está dentro da comunidade está seguro. O mundo cruel e violento está lá fora.
A outra notícia também vem da região carbonífera. Vem de Arroio dos Ratos. Lá o prefeito encaminhou ao secretário de segurança do estado, um pedido de construção de um dos novos presídios planejados pelos programas nacionais e estaduais de segurança pública. Diz o prefeito de Arroio dos Ratos que cerca de noventa e cinco por cento dos comerciantes e cem por cento da comunidade, aprovam a construção de um presídio na cidade e acreditam que esta iniciativa pode trazer mais segurança e empregos para o município. Como Passaperto, Arroio dos Ratos quer crescer e progredir, nem que seja com um presídio em seus limites.
Não dá pra comparar a vida real com a ficção. Seria até covardia. O que interessa a todos é seguir o roteiro e assim chegar a um final feliz. Seja em Charqueadas ou Portelinha, Arroio dos Ratos ou Passaperto. Ou ainda mais perto.
Saiu de circulação
Esta semana recebemos a notícia do fim da Revista Santa Isabel, que circulou por quase cinco anos e que seu lançamento em 2003 pode ser considerado (pelo menos eu considero) um marco na cultura do quarto distrito de nossa cidade. Ficamos todos tristes com esta decisão do Alexandre Bruch, mas sabemos das dificuldades para tocar um projeto com tanta qualidade em Viamão. Com certeza vai deixar saudades, mas boa sorte e sucesso ao Alexandre em seus futuros projetos.
Coluna publicada em 19 de janeiro de 2008.

Cinqüentenários

Logo no início das operações da Viamão FM, ainda na Rua Guadalajara - na parada 40, tivemos numa manhã uma excelente surpresa que até hoje marca nossas lembranças, entre tantas outras boas lembranças que temos daqueles dias iniciais na comunicação viamonense. Estávamos trabalhando e de repente chega nossa querida amiga Rita Bringhenti com um músico à tiracolo: Dante Ramon Ledesma. Ele prontamente sentou-se junto ao microfone e conversou por mais de uma hora conosco e com os ouvintes, contou sua trajetória musical, as terríveis experiências durante a ditadura argentina e lá pelas tantas pediu um violão e desembrulhou seu repertório. E que voz! Absoluto no estúdio, Dante cantava ao vivo para nossos ouvintes e entre uma e outra canção aproveitava o espaço para difundir seus ideai de amor entre as pessoas, a paz e a humanidade.
Não preciso dizer que aquela visita emocionou a todos nós. Alguns sentados junto ao cantor, outros em pé, observando pelas janelas daquele pequeno estúdio com pouco mais de quatro metros quadrados, mas cheio de energia pura e emoção. Para nós da 90.9FM, aquelas horas com Ledesma estavam marcadas na história do rádio viamonense, tanto pela emoção quanto pela oportunidade de ver um artista internacional e respeitado como Dante Ramon Ledesma dando uma “palhinha” para nossos ouvintes.
Esta semana tive a oportunidade de ouvir novamente o Dante. Foi no jantar de comemoração dos cinqüenta anos da Bringhenti Materiais de Construção. Uma linda festa que o Paulo e a Rita Bringhenti ofereceram aos seus colaboradores. Dante, amigo da família estava lá. Veio de Foz do Iguaçu só para homenagear os amigos viamonenses. E brilhou novamente. A voz deste argentino, cidadão do mundo encanta e emociona. E a comemoração esteve no mesmo nível, com certeza.
Falando em cinqüentenário, eu e o Sinuê, que estávamos na mesma mesa, começamos a listar quais as empresas viamonenses que já alcançaram esta marca ainda em atividade e lembramos de somente uma: o quase centenário Correio Rural. No outro dia pesquisamos e chegamos à conclusão que não passam de dez, as empresas mais antigas de nosso município. Puxamos na memória e não achamos muito mais que isso, e concluímos que é preciso muita força de vontade e trabalho duro para que uma empresa chegue aos cinqüenta anos. E a Família Bringhenti e seus colaboradores, por tudo isso, merecem o nosso aplauso. Que outros cinqüenta anos venham porque uma cidade como Viamão precisa de empresas com tradição e qualidade, acima de tudo.
Janeiristas
Parece mentira, mas a safra de janeiro é muito boa. Além do humilde colunista, muita gente boa nasceu em janeiro. Agradeço as mensagens que recebi pela troca de idade e ainda descobri mais alguns viamonenses que fazem aniversário junto comigo, em 9 de janeiro. O Henrique, proprietário da Regata Seguros, aumentou esta cota e agora devo ter uns 10 amigos que fazem aniversário no mesmo dia. Temos que reunir esta galera e procurar um restaurante onde aniversariante não paga e mandar o gerente pro Cardiologia. Um abraço a todos os aniversariantes de janeiro, também.
Magda Famil
Um agradecimento especial à minha amiga Magda Famil pelas suas belas palavras. Magda: tenha certeza de que suas palavras tocaram meu coração e que vamos continuar lutando por nossa cidade, talvez na contramão do usual, mas tenho certeza que a maneira como fazemos as coisas e a maneira como você também faz a tua parte nesta construção pode mudar muito a maneira como nossa juventude vê este pedacinho de chão. Continue na luta minha amiga, e conte com a gente sempre que precisar.
Coluna publicada em 12 de janeiro de 2008.

De arrudas e ferraduras

2007 já acabou e, com certeza, espero que 2008 seja melhor, mesmo! Nunca passei um ano sob o domínio de substâncias medicamentosas. Batalha feroz: hipertensão, infecções renais, inflamações e contusões, colesterol, e por aí vai. Na parte do “saúde pra dar e vender” informamos que a empresa estará em 2008, resgatando ações no mercado. A todos os amigos que se preocuparam e desejaram meu pronto restabelecimento meus sinceros agradecimentos. A gente tâmo pronto pra outra!
Seu Cláudio tá certo
Seu Cláudio, um querido leitor da Santa Isabel, me questionou esta semana sobre minhas relações políticas na cidade e imparcialidade. Pois bem Seu Cláudio, não sou imparcial, por isso não escrevo sobre a política viamonense. Fico no abstrato, na corneta à “geléia geral”. Não sou comentarista político e tenho minhas convicções, modéstia a parte. Não falo, pois sei que serei parcial, pelo menos para com a minha consciência, mas afinal: alguém ainda é imparcial neste rincão? A patrulha é míope.
Chutando cachorro morto
José Luiz Previdi, um respeitado jornalista porto-alegrense, escreveu dia desses, que é muito fácil pra jornalista bater em político. Na política todos são culpados até prova em contrario, e aí é moleza fazer pauta denuncista. Eu particularmente prefiro tratar estes assuntos com mais humor e irreverência. Afinal alguns políticos são, essencialmente, como aquela famosa foto do Jânio Quadros. Aquele trocar de pernas já diz tudo! Se Jânio fosse beatificado, com certeza seria o padroeiro da política viamonense.


Liga Viamonense
Colocamos alguns ingredientes na tigela, o Jaeger adicionou um pouco de fermento e pronto: o futebol amador deu o que falar neste final de ano. Para o meu querido amigo Tadeu, presidente da Liga: este colunista que o senhor não sabia quem era, semana passada na Santa Isabel FM, é o mesmo que não entende uma associação de usuários do Cais Mental com cadeira no CONCIVI. Mas isso é outra estória. O que importa é que felizmente outras pessoas também pensam como a gente e querem uma entidade mais “arejada”. Senão vamos passar o resto do ano invejando os 140 mil reais do futebol gravataíense.
Feliz 2008
Em tempo, desejo a todos, um Feliz 2008 e agradeço a confiança e a amizade desta querida equipe do Diário de Viamão. Que este ano que está começando seja de grande sucesso para todos nós, viamonenses.


Coluna publicada em 5 de janeiro de 2008.

Natalícias

De uma maneira geral nossas festas de final de ano foram transformadas sobremaneira em um acontecimento comercial, ao longo dos anos. Talvez isso explique porque ouvimos tantas pessoas dizendo ultimamente que não gostam de Natal, que ficam deprimidas, que não vêem graça nas comemorações. Que preferem ficar quietas no seu mundo, e por aí vai. Muito da culpa disto talvez esteja no essencial que deixamos pra traz, o espírito natalino, o nascimento do Jesus Menino. E também porquê, o Natal é o grande acontecimento familiar infantil. Quando crescemos, nosso olerite e o SPC lembram que o ano foi criado para separar os dias vinte e cinco de dezembro.
Açorianas
Outras figuras importantes na tradição natalina já foram aposentadas por nós. Os Reis Magos eram os responsáveis pelos presentes e estavam ligados fortemente a tradição luso-açoriana. O seis de janeiro, dia em que os presentes eram trocados, ficou no passado. Na minha adolescência, fomos uma noite acordados por um Terno de Reis, oferecido por amigos. Na época acordei, assisti, e voltamos a dormir. Não tinha ainda, absorvido o real significado daquela celebração, mas hoje, passado um quarto de século, vejo que mais um aspecto de nossa cultura viamonense foi extinta. Perdeu a cultura e perderam nossos filhos. Talvez pra sempre.
Cabeção
O Jaeger aqui do DV, editor do esporte, é conhecido pelo apelido de Cabeção, não me perguntem o porquê. Mas apesar disso até que é um cara inteligente. Quando fazíamos o Conversa de Bar, na Viamão FM, sua presença elevou muito o nível dos debates. Algumas questões que temos levantado, como o apoio ao esporte amador aqui no município, ficam prejudicadas pelo espaço exíguo de nossas colunas. Também gostaria que a prefeitura destinasse 140 mil para o futebol amador, mas gostaria que a “Liga” tivesse um produto interessante pra oferecer. Jaeger, tu já foste a Gravataí e viu como a cidade inteira encara o campeonato amador de lá.
E acho que também precisamos arejar a nossa liga municipal, que parece capitania hereditária. Eu lutaria por 140 mil, ou até mais, se trouxéssemos o Julinho, do Ginásio da Florença, pra administrar uma liga séria aqui em Viamão. Ou o Toninho Melo, do Barcelona, que conhece tudo e todos no futebol amador viamonense. Com esses dois à frente da organização, tenho certeza que daríamos um salto de qualidade. Mas tem que limpar a casa, primeiro. E começar um trabalho sério.
É, Daniel, temos que encontrar outro campo para tornarmos nossas idéias públicas. Viu que falta que faz uma rádio forte ou uma emissora de tevê em Viamão? Tevê não, que somos muito feios!
Vice-prefeito
Entendi a profecia do querido Norberto Ribeiro, já no primeiro dia, sobre a vaga de vice-prefeito na chapa do atual prefeito à reeleição. Nos primeiros dias de Alex Boscaíni à frente da administração municipal, eu disse que teríamos um prefeito muito personalista e com um grande projeto político que envolve até a disputa, no futuro, ao cargo de governador do estado. O que o Norberto quis dizer com o “inho”, que o vice terá “inho” no nome, é que para o prefeito quem quer que seja o vice, será só o vice-prefeitinho.
Tevê viamonense
E por falar em televisão, outro dia conto uma história interessante sobre a tevê viamonense. Isso mesmo meus amigos, temos uma emissora de tevê em nossa cidade! Aguardem.
Feliz Natal a todos.
Coluna publicada em 22 de dezembro de 2007.

Essas rasteiras que a história nos dá

Alguns historiadores sustentam a tese de que a influência de Rasputin, misto de médico e guru, sobre a família real russa no final do século XIX, foi responsável pela série de mudanças políticas que Rússia viria enfrentar até a Revolução de 1917, quando os bolcheviques assumiram o controle daquela nação. Aí durante anos este monge russo pintou de figura importante nos nossos livros escolares, no capítulo dedicado à Era Contemporânea. Com o passar dos anos, a história, e seus historiadores, puderam notar que na verdade a influência maior era da czarina Alexandra sobre Nicolau, líder do maior império em extensão de então, que com seus devaneios e loucuras na busca de uma cura para o filho doente, cegou o marido para os problemas de um país em ebulição e ansioso por reformas que tirassem o povo de uma vida quase medieval (e isso em pleno 1916, durante a Primeira Grande Guerra).
Esse é só um exemplo de quão fascinante é a história. As inúmeras leituras que se pode fazer sobre um tema, um acontecimento. Marcos históricos podem variar ao sabor das novas descobertas e teorias sempre devem ser bem vindas. Não sou historiador, minha formação é outra, mas até na arquitetura precisamos deste alicerce para reconhecimento da evolução do ser humano e da sociedade.
Há quem diga que a história é contada pelos vencedores. Eu acrescentaria que é contada pelos que detém o poder. E neste raciocínio, ter o poder e não utiliza-lo para reformar a história soa como uma burrice implacável. Exemplos disso tivemos em dois momentos de nossa história: a influencia positivista no início de nossa republica moldou nossos heróis para pintar um belo quadro histórico e depois os “revolucionários” de 1964 adicionaram algumas de suas tintas e estilos para terminar esta obra, que já desbotou, diga-se de passagem. Depois o tempo se encarregou de tornar essas histórias mais ou menos importantes, revelando seus aspectos mais interessantes. Haja vista que um dos grandes sucessos da releitura de nossa historia ser um cara que se firmou debochando da pose histórica de nossos personagens brasileiros. Contar com bom humor a historia pode ajudar a digerir melhor alguns fatos.
E o bom humor talvez nos salve de registros que ficam só no chapisco, dando a impressão que o reboco jamais ficará pronto. Dessa maneira nossas futuras gerações não reconhecerão o real valor de nossa história e a Vila Cecília ficará para a eternidade como a vila da fábrica de móveis que deu origem ao nome do bairro: Santa Cecília, que tinha uma chaminé que restou desta fábrica e que tinha um Zaffari do outro lado da rua. Ou talvez um dia acordemos fascinados com as descobertas arqueológicas de um morador do Cantegril que cavando os alicerces de sua futura casa, em nobre condomínio fechado, encontre os restos mortais de combatentes farroupilhas e entre seus pertences estejam suas carteirinhas de sócios do Cantegril Clube, com o passe para as piscinas vencido.
Nossa história pode ser muito mais rica se soubermos contá-la e recontá-la. Essa é a verdadeira essência de nossas raízes. A micro-história pode montar uma história maior, digna e humana. Mas tem que ser diariamente repensada e desafiada. Senão colocaremos a culpa em algum Rasputin.
Em tempo: alguém está nos devendo a biografia de Padre Caldana, esta figura tão importante para a história viamonense.
Coluna publicada em 15 de dezembro de 2007.

Periferias

Você já deve ter visto no Fantástico aquela série de reportagens que a chata da Regina Casé apresenta sobre as periferias, e que foi muito legal, diga-se de passagem, mas não justificava o investimento em uma versão globalizada. A Regina acha motivo em tudo pra usar a palavra periferia e suas teses sustentam suas viagens “around the world”. Um gari dançando, nos Campos Elíseos, na Cidade Luz e pein! Olha lá a periferia se manifestando e debochando a condição de subserviência às elites primeiromundistas.
Lá e cá
Essa estória de comparar periferias de lugares distintos não tem muita razão de ser. Se por periferia se entende exclusão de um determinado processo, temos que entender que nem sempre os processos de marginalização são os mesmos. Mas muito desta marginalização se deve aos preconceitos e ao poder, nem sempre econômico, mas, quase sempre sobre os meios de comunicação, que servem de apoio ao preconceito. E isso acontece lá e aqui também, em nosso município.
Queixume
Volta e meia, alguns vereadores sobem à tribuna para ironizar ou reclamar o tratamento ou as diferenças entre algumas regiões de Viamão e a Santa Isabel. Dizem eles que algumas cabeças pensantes ficam privilegiando a região, e que isto se reflete também no zelo da administração municipal. Já ouvi esta estória antes em outros lugares. Ou vocês acham que o pessoal do Sarandi não tem bronca com o pessoal das adjacências da Vinte e Quatro de Outubro, em Porto Alegre?
Desinformação
O que estes vereadores não dizem, ou não sabem, é que a Grande Santa Isabel, a Grande Cecília e as Augustas, sempre foram vítimas de duplo preconceito. Primeiro porque foram consideradas periferia de Porto Alegre e da capital receberam todas aquelas pessoas que não tinham condições de se estabelecer nos bairros porto-alegrenses, empurradas durante décadas para os arrabaldes e vilas com menos condições de vida. Em segundo lugar, foram (e talvez ainda sejam) marginalizadas pelos capelistas de nossa cidade. Os “trezentocentões”, filhos da fina-flor da sociedade que olham com desdém para as vilas de Viamão.
Próprias pernas
Mas as vilas viamonenses têm passado muito bem, obrigado, caminhando pelas próprias pernas. E valorizando sua história, talvez mais curta, mas também cheia de fatos importantes. O que ninguém mais fala, nem estes políticos cheios de ciúme, é que o Quarto distrito foi tão maltratado no passado que tentou quatro vezes a emancipação. Não lograram êxito, mas criaram uma alternativa: a busca pela auto-suficiência. Buscaram o crescimento de seus núcleos urbanos, investiram em suas regiões e hoje colhem os frutos. E a administração e os políticos capelistas fizeram o quê? Escaldados com a emancipação de Alvorada, na década de 70, não fizeram nenhum investimento estratégico depois da parada 42 em direção à Porto Alegre. Chegaram ao cúmulo de construir um ginásio de esportes em cima de uma sanga, mas não deixaram esta obra escapar do Centro.
Mentalidade
Temos que mudar esta mentalidade, acabar com os preconceitos. Quando produzíamos a Revista Viamão, sempre reservávamos alguns exemplares para a distribuição com formadores de opinião de Porto Alegre. Eu pessoalmente levava os exemplares para as rádios, tevês e jornais de Porto Alegre, para mostrar que Viamão não tinha só notícia ruim. E quando dizíamos que produzíamos a Revista a partir da Santa Isabel, volta e meia alguém brincava com o fato de estarmos tão longe de Viamão e tão perto de Porto Alegre, e provocava a questão da emancipação. E eu sempre retribuía no mesmo tom, com muito bom humor: “não queremos ser vizinhos de Viamão. Queremos ser o filho mais querido!” Que assim seja.
Coluna publicada em 8 de dezembro de 2007.

Decembrinas

Não tem jeito, acabou o ano. Entramos no derradeiro mês de 2007. Agora faltam trinta e um dias para novas promessas, novas resoluções de vida. Logo, logo o espocar dos champanhas e sidras romperá a noite e renovará nossas esperanças. Mas enquanto não chega 2008, vamos tocando nossas vidas e cumprindo a programação.
Relações exteriores
Segundo o Lilja, se Viamão fosse um país, seria o 25º menor país do mundo. Seríamos maiores que muito principado, com certeza. Mas se fossemos um país teríamos um corpo diplomático, um ministério das relações exteriores e (se tudo desse certo) um presidente eleito democraticamente ou um premier, sei lá, também não importa. Mas o interessante é que com um “Itamaraty” cuidando das relações com os povos vizinhos o respeito mútuo talvez prevalecesse.
Americanizado
Os americanos talvez não sejam bom exemplo pra muitas coisas, mas eles têm um pensamento que sintetiza a filosofia deles em relação ao resto do mundo: onde existem interesses de um estadunidense, existem os interesses dos Estados Unidos. É a política que preserva o imperialismo, que dá a eles o direito (deles) de meter o bedelho em tudo, para garantir os interesses do Tio Sam.
Interesses Viamonenses
Com certeza eu e você, caro leitor, não concordamos com muita coisa, mas talvez essa maneira de pensar dos americanos possa servir também para municípios como Viamão, 25º menor país do mundo. Claro que não temos a pretensão de criar um Instituto Rio Branco, mas deveríamos tentar criar relações mais diplomáticas no trato com nossos vizinhos.
Avenida Ipiranga
Quer um exemplo? A Avenida Ipiranga em Porto Alegre está em obras ali na altura da CEEE, próximo à Antônio de Carvalho. Está praticamente impossível de transitar pelos desvios criados pela EPTC. Vou seguidamente a Porto Alegre a trabalho e quando lembro da confusão que se estabeleceu ali na Ipiranga já é tarde demais, não tem mais volta. E fico pensando na tortura que é para nossos conterrâneos que trabalham em Porto Alegre todos os dias, que tem que ficar serpenteando as esquinas da Intercap, dentro dos nossos ônibus.
Políticas externas
Sei que temos problemas demais dentro de nosso próprio município, mas talvez se adaptássemos o pensamento americanista para o princípio viamonista nossas reivindicações fossem mais respeitadas. Já pensou o nosso prefeito ligando pro prefeito de Porto Alegre:
- Pô Fogaça, eu sei que Porto Alegre “é demais”, mas tua obra na Ipiranga está incomodando a nossa população, dá um jeito nisso aí!
Claro que não é papel do nosso prefeito, ele tem muito que se preocupar, mas diplomacia é também uma maneira de fazer política. Veja o episódio do presídio. O prefeito Alex tomou para si a responsabilidade de rejeitar a iniciativa do Governo Estadual. Independente das posições de nosso administrador municipal (que particularmente não são as mesmas minhas), talvez se tivesse alguém discutindo em uma outra esfera, não ficássemos de fora da discussão. Talvez saíssemos ganhando pelo simples fato de poder sentar e negociar, até mesmo a situação do presídio da parada 36, o semi-fechado do Ana Jobim. Numa negociação diplomática, onde interesses de parte a parte são melhor visualizados teríamos mais a ganhar. Mas infelizmente não somos o 25º país do mundo e não temos embaixadores e chanceleres. Então segue o barco que 2008 tá chegando!
Coluna publicada em 1 de dezembro de 2007.

Adotados

Num dos tantos “Conversa de Bar” que fazíamos na Viamão FM, todos os sábados à noite, na véspera do Dia das Mães eu mandei um abraço a todas as mães adotivas, e expliquei que mãe adotiva talvez seja a maior manifestação de amor materno que possa existir. Não que as mães naturais não devam ser amadas e valorizadas, mas uma mulher que muitas vezes não tem a condição física, a possibilidade natural de conceber em seu ventre um novo ser, se coloca a serviço do instinto de perpetuação da espécie e toma para si a obrigação de manter uma vida, um filho gerado em outro ventre e muitas vezes rejeitado, descartado.
Tenho amigos muito próximos que tomaram esta decisão. Adotaram seus filhos e a eles dão o mesmo amor incondicional que qualquer criança merece. E tenho amigos, também muito próximos, que são adotados. Que sabem que são adotados. E a eles eu sempre digo que pessoas iluminadas eles são! Nosso pai celestial, quando tudo parece ser o caos, lhes oferece um anjo para cuidar de suas vidas. Pessoas assim já nascem com sorte, ainda mais quando são tão ansiosamente esperados, tão premeditadamente amados que só pode ser um sinal de como são afortunados. Claro que eu sei que nem sempre a vida nos pinta este quadro maravilhoso, mas temos a obrigação de vez por outra, pararmos para fazer um balanço, e com certeza a contabilidade de nossas vidas vai ser positiva.
Mas isso não importa (ou talvez importe), o fato é que uma iniciativa nascida aqui em Viamão – e como bom viamonista é este aspecto que quero destacar – começa a dar frutos e alegria para muitas pessoas. Até o momento que eu preparava esta coluna ainda não tinha a confirmação, mas se não foi ao ar, deve ir aos próximos dias uma entrevista de um viamonense que criou um site para discutir a situação dos filhos adotivos e também ajudá-los a montar um passado que possa dar conforto ao presente e projetar um futuro mais tranqüilo. Isso porque muitas das pessoas adotadas têm a necessidade de conhecerem seu passado, seus pais naturais, para abrandarem a curiosidade inerente de todo o ser humano, saber de onde realmente vieram.
Mais que um site, Ricardo Fischer, morador da Santa Isabel, criou na verdade um projeto: Filhos Adotivos do Brasil, que busca apoiar pessoas que querem refazer sua trajetória e reencontrar seus pais naturais, mas não só isso, ajudar também a conscientizar as pessoas para este gesto de carinho com o próximo, que é a adoção.
Esta semana ele esteve em São Paulo participando de gravações para o Programa do Jô e já tem uma participação no programa Mais Você, da Ana Maria Braga, que deve ir ao ar em breve, também. E isso, pode parecer pouco, mas particularmente me deixa muito orgulhoso, pois é uma iniciativa nossa, de pessoas que cruzam diariamente por nós, nas ruas, supermercados e lojas. Numa cidade que tem problemas enormes com a sua auto-estima, iniciativas silenciosas como esta, que se fazem sem muito alarde ou apoio oficial, devem ser elogiadas. Temos o dever de difundir estas informações, de tornar estas iniciativas públicas e conhecidas.
E a boa notícia também é que o site deste projeto, www.filhosadotivosdobrasil.com.br, já deu resultados positivos, ajudando pessoas a encontrarem suas famílias biológicas. Essa é a verdadeira função da revolução tecnológica que estamos assistindo. A internet deve ser um instrumento de valorização das relações humanas. O site do projeto do Ricardo já mostra a sua importância e devemos parabenizar este viamonense, que com uma idéia simples pode dar um novo sentido à vida de muitas pessoas.
Pra finalizar deixo a mensagem que está lá na página do Ricardo Fischer, na web, que sintetiza a opção pela adoção: “Todos nós sabemos que o amor não está condicionado a laços genéticos; mesmo o amor de pais e filhos, sejam eles biológicos ou adotivos, é sempre construído sendo que esta conquista pode ser a longo prazo ou pode ser um “amor à primeira vista”.
Coluna publicada em 24 de novembro de 2007.

Serasa Eleitoral

Já pensou se fosse assim. Você chega em uma loja para fazer um crediário, comprar um televisor ou uma geladeira nova, e o atendente lhe informa:
- Sinto muito senhor, seu crédito não foi aprovado.
- Como assim? Não foi aprovado? Mas eu estou com todas as contas em dia, SPC e Serasa em ordem! – você responde surpreso.
- Parece que é o TRE...
- O quê? TRE!
Aí o vendedor te explica que agora o TRE está controlando os votos, se o político em quem você votou fizer alguma besteira, um deslize que seja, batata: quem votou fica com o nome sujo, até a próxima eleição. Ou até que o deputado, vereador, senador, ou sei lá o quê, seja cassado. Mas ninguém vai ficar sabendo em quem você votou. Só você e o supercomputador da Justiça Eleitoral. Seu voto vai ficar armazenado no banco de dados e ninguém poderá furar o sigilo, a máquina só informará que você votou mau pacas! Não diz nem que é o cara de pau do político! E vai trancar o seu CPF. Nada de compras pelo crediário. Nada de talão de cheques. Desta maneira você vai ter que puxar pela memória e tentar lembrar em quem votou.
Claro que isso é uma brincadeira, não existe a menor hipótese de isso acontecer, mas já pensou se fosse possível? Muita gente iria pensar duas vezes antes de emprestar seu apoio a este ou aquele candidato. E eles, os candidatos teriam que ter mais escrúpulos, para não colocar em risco a capacidade de compra de seus eleitores. Muitos escândalos e maracutaias talvez não acontecessem porque o eleitor seria mais fiscalizador. Não das atitudes políticas, mas pelo risco eminente de se tornar um freqüentador das listas do Serasa Eleitoral.
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Presídio em Viamão – último capítulo
Acabaram-se as chances (ou riscos) de construírem um presídio em Viamão. Depois de nossos lideres maiores espernearem e fazerem beicinho, o prefeito de Porto Alegre diplomaticamente indicou dez áreas em seu município para que o governo do estado escolhesse a que melhor fosse aproveitada para uso prisional. Golpe de mestre!
Primeiro porque uma vez que outras cidades já mostravam resistência em pelo menos dialogar, só a manifestação de boa vontade porto-alegrense já ganhava pontos junto às autoridades estaduais e federais. E em segundo lugar, Fogaça e seu “staff”, sabem que por pior que seja um presídio, ele trás alguns benefícios que podem ser barganhados. Que ele fosse instalado lá no Barro Vermelho, ou no distrito industrial da Restinga (que assim como o nosso, lá na divisa com Alvorada, não decola) ainda seria um bom negócio.
Agora veio a notícia que não só Viamão ou Alvorada perderam a oportunidade, mas também Porto Alegre. O governo do estado tinha até o dia 5 de novembro para indicar a futura localização do complexo penitenciário e como não indicou nenhum terreno, ficou fora do PAC prisional. Nada de verbas para o Rio Grande do Sul, pelo menos por enquanto. E podem ter certeza: alguém vai cobrar esta conta na eleição do ano que vem.
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Casa de Isabel
Na próxima sexta-feira inaugura um novo espaço artístico e cultural de nossa cidade. A Casa de Isabel quer proporcionar, a todos os viamonenses, a possibilidade de conhecerem nossas maiores manifestações. E o show de estréia não poderia ser melhor. Acima de qualquer tendência musical, o primeiro espetáculo da nova casa é uma Roda de Chorinho, considerado por muitos músicos de renome internacional como o jazz brasileiro. Não perca a chance de se divertir. Se você é daqueles que passam direto pela Santa Isabel para ir a Porto Alegre, mude seus hábitos, desarme-se de preconceitos e vá conhecer esta nova casa. Fica na Avenida Liberdade, 2077, na Santa Isabel.

Coluna publicada em 17 de novembro de 2007.

O Alaska

Você acredita que exista alguém que conhece todo o nosso município? Que conheça cada cantinho de Viamão, aquela esquina mais remota, aquele fim de campo mais ao longe que possa existir? Eu particularmente acho que não. Pode ser até que exista alguém que tenha essa capacidade, que realmente gastou a sola do sapato, mas será que em algum momento essa pessoa levantou os olhos, parou e pensou: como é grande esse Viamão! Como é bela essa terra, apesar de todas as dificuldades e agruras!
Poucos municípios têm um cenário que se descortina tão fantástico. Temos nosso “mar”, com seu pôr do sol indescritível. Temos praias de areias branquíssimas, temos coxilhas e rincões verdejantes, temos uma história riquíssima pra contar. Temos um cenário maravilhoso esperando pelos turistas que hoje ainda estão olhando para outras paisagens gaúchas. Antes que uma crítica é só uma constatação, e mérito destas cidades que souberam vender o seu peixe. Mas a gente chega lá.
Essa semana estive na vizinha Alvorada, e percorri a estrada, que nos leva até lá, pela Vila Elza. Parece difícil de acreditar, mas lá ao longe, pertinho de Alvorada, depois de contemplarmos cenas bucólicas da paisagem semi-agropastoril, se apresenta aos nossos olhos um núcleo urbano. E viamonense, acima de tudo. Digo isso, porque apesar de estar ali, coladinha em Alvorada, aqueles moradores, nossos irmãos viamonenses, reafirmam sua identidade. Essa semana conversava com alguns moradores daquela região – Vila Elza, Vila Helenita, entre outras – e brinquei que, para eles, era mais fácil e tranqüilo tocarem as suas vidas, atrelados à Alvorada, usando os serviços daquela cidade, utilizando os bancos e supermercados de lá. E para minha surpresa eles em coro, me devolveram um “não!” como resposta. Isso foi antes de passar por aquelas vilas, que eu já conhecia, mas não tinha parado e levantado os olhos para admirá-las.
E estou apaixonado! Apaixonado por aquele lugar. O mais setentrional núcleo urbano de nossa terra! O nosso “Alaska”. Estou apaixonado por aquelas pessoas que reafirmam a identidade viamonense. Quando muitos reclamam, criticam e desertam a condição de viamonenses (indo aos “shoppings” de outras cidades, acreditando que só o que Viamão tem de bom é a RS040), estes cidadãos, apesar de sofrerem as mesmas dificuldades que sofremos todos nós, ainda que possa parecer mais fácil dar as costas para nossa condição, aceitá-la e buscar uma maneira mais confortável de tocarem seu dia a dia, dizem um “não!”, tão constrangedor, que até agora estou envergonhado de ter brincado com a situação deles. Aos meus amigos da Vila Elza, meus sinceros agradecimentos, pela carraspana.
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Sobre carnavais
Trocando de assunto, já começaram os ensaios da Unidos de Vila Isabel, na quadra da escola, ali no Campo da Bica. Se você nunca foi a uma quadra de ensaios, não perca tempo. Todos os domingos, a partir das 21 horas, Arizinho, sua afinada harmonia e a bateria nota dez, dão um espetáculo, junto com a comunidade que faz um colorido show, com as passistas e casais de Porta-bandeira e Mestre-sala e as nossas maravilhosas Porta-estandartes. Eu sou suspeito para falar, mas posso dizer que depois que você participar de um ensaio, vai mudar sua opinião sobre carnaval. A Vila faz um carnaval bonito, e é, sem dúvida, o maior representante da cultura viamonense de todos os tempos.
Um abração
Um bom exemplo? A empresária Rita Bringhenti é uma dessas pessoas que se envolveu com as coisas do carnaval e agora está levando a família toda pra se divertir na Vila Isabel. Para a Rita, seu maridão, o Paulo e a pequena Duda, vai o nosso abraço.

Coluna publicada em 10 de novembro de 2007.